Muito bem, os extraterrestres invadiram a Terra mais uma vez. Dessa vez esses são mais sistemáticos, cortaram a luz, depois criaram uns tsunamis, deram um “boost” na gripe aviária, copiaram a gente e, por fim, vão invadir tudo. Só esqueceram de apagar nossos cérebros, assim quem sabe A 5° Onda não ofendesse tanto assim seus espectadores.
Para variar, e mais comum do que invasão de Ets, A 5° Onda é baseado em uma série de livros (uma trilogia, para variar mais ainda!), e chega na esteira de mais um punhado de outras tentativas de emplacar um sucesso no cinema. Assim como segue na mesma toada preguiçosa de presumir que quem entrará no cinema será uma criatura menos inteligente ainda que seus personagens.
O filme então é uma sucessão de momentos em que Cassie (Chloe Grace Moretz) toma as decisões mais erradas possíveis enquanto acontece uma invasão alienígena. A tal da onda vem justamente desses estágios de invasão, e ela acaba tendo que enfrentar um mundo pós-apocaliptico para encontrar o irmão Sam em uma base militar.
Cassie não tem um plano, apenas um mapa com um caminho riscado, também tem a consciência pesada por ter esquecido de avisar o motorista do ônibus de que já voltava e acabou perdendo o irmão. Por outro lado, ajuda demais a Sony e barateia os custos do filme quando decide fazer todo o caminho enfronhada em uma floresta. Um local que, ainda por cima, está lotado de aliens caçando humanos.
Mas não se empolgue com o termo “alien”, eles não estão por lá, quem está são humanos mesmo, já que em uma dessas “ondas” eles se tornaram igual aos terráqueos. O que também é uma baita ajuda para economizar uma grana. A solução então é criar esses parasitas que se agarram ao cérebro de seus hospedeiros e só podem ser enxergados por um óculos desenvolvido pelo exército, ainda que quando isso aconteça a primeira impressão que você tenha seja de que aquele “ácaro mutante” não caberia na cabeça de um ser humano.
É verdade também que esse arco, onde o exercito treina as crianças para serem sua força contra a tal 5° onda até tem uma pequena reviravolta que deixa o filme mais interessante (mesmo que por apenas um segundo), mas também é verdade que a desculpa que os militares dão por serem crianças não faz muito sentido e talvez você chegue ao final do filme se perguntando o que houve.
Mas de qualquer jeito, e como uma boa e velha ficção científica young adult (pelo menos aqui fugimos das distopias), o foco de tudo está nessa mocinha andando por ai com sua metralhadora. Assim como no resto do gênero, ela também cruza o caminho de um bonitão enquanto mais para frente volta a trombar com o antigo amor do colégio, ambos a salvam e a protegem dos males do mundo, e mais uma vez uma suposta heroína de ação se torna uma princesa indefesa. Ok, ela até dispara seu revolver algumas vezes, mas nem por um segundo tem controle de seu destino e de suas ações. Sem seus “machos alfas” ela estaria até agora perdida em um floresta ou correndo pelos corredores da base militar como um idiota.
Uma jornada que não empolga e nem é interessante, justamente por Cassie não aprender nada nela a não ser como tirar a arma de um adversário. Isso e também que é normal tomar um tiro na perna e ficar desmaiada por cinco dias, conclusão médica que teria acabado com boa parte dos filmes de ação da história do cinema.
Pior ainda, Moretz é bonitinha e meiguinha demais para a personagem (que é exatamente o que combinava com a Hit Girl), o que despacha completamente qualquer tentativa dela de ser “badass” (que no Brasil seria algo como “durona” e não aquele troço que a legenda de A 5° Onda decide inventar). Mas esse “fodástica” (sic) citada nem é Cassie, mas sim Ringer (Maika Monroe) umas das “crianças” do exército, que tem uma cena só pra ela desafiar seu superior, gritar com todos homens da sala, imprimir uma raiva pseudo-feminista e sair andando em direção a lugar nenhum.
E ainda que isso tudo possa até ser culpa do livro de Rick Yancey (não li, nao sei), os culpados do resultado no cinema são um trio de roteiristas (incluindo o famigerado Akiva Goldsman, cara que mais estraga adaptações literárias) e o diretor J. Blakeson, que não percebem o quanto estão criando um filme que só funciona diante de uma carga enorme de coincidências e acasos. Tudo está no lugar demais para esses personagens e praticamente ninguém precisa fazer muita coisa a não ser bater nas paredes desse labirinto e tentar outro caminho.
Coincidência – O Film… quer dizer A 5° Onda é então a prova de que, se são esses personagens os humanos que os aliens tanto querem exterminar, então que façam um bom trabalho antes que alguém tenha a ideia de começar a filmar o segundo filme da trilogia.
“The 5th Wave” (EUA, 2016), escrito por Susannah Grant, Akiva Goldsman e Jeff Pinkner, dirigido por J. Blakeson, com Chloe Grace Moretz, Ron Livingston, Maggie Siff, Zackary Arthur, Nick Robinson, Liev Schreiber, Maria Bello e Maika Monroe