Há algo de muito brega, amador e piegas em Amor em Sampa, essa comédia romântica que, seguindo os passos de Simplesmente Amor, tenta observar diferentes relacionamentos, e seguindo os passos de Nova Iorque Eu Te Amo, tenta colocar todos eles em torno de uma cidade (nesse caso, a megalópole São Paulo).
Nunca conseguindo atingir o envolvimento visto nos filmes supracitados, pelo menos você ao assisti-lo irá ganhar de brinde diferentes números musicais que tentam resumir o drama de cada um dos personagens, a maioria de maneira bem-humorada e uns poucos mais dramatizados. No entanto, todos românticos, e é isso que forma o grude de todas as histórias.
Isso e dezenas de tomadas aéreas da cidade que nunca dorme.
O roteiro e produção de Bruna Lombardi, que também participa do filme, apela para o “patriotismo” paulista dos que vieram, foram adotados pela cidade, e compreendem seus desafios no melhor sentido (e estão muito bem com isso). Além disso, a história pega elementos fáceis, do momento, como planejamento urbano (trânsito), ecologia (áreas verdes) e tolerância (gays). Além disso, arrisca criar uma diversidade de classes sociais sem miseráveis ou simplesmente pobres fedidos. Por conta disso, soa muitas vezes como novela, onde ninguém na verdade possui um drama realista: são só bocas falando e lamentando decisões da vida, ou nem isso. Às vezes é só a vida passando.
Mas não é isso que soa como novela. O exagero nas cenas em que a câmera passeia pelos cenários torna tudo um balé comercial, passageiro e enlatado. As cores vibrantes parecem consequência mais do amadorismo do que um musical pensado em temas, mas não se engane: assim como nas novelas, as camadas mais ricas da sociedade são invadidas por tons monocromáticos, e as mais pobres o tom “todas as cores gritantes do universo”.
E ainda sobre o amadorismo, os números musicais escancaram o completo despreparo da dublagem e engenharia de som da indústria cinematográfica brasileira. Quase a maior parte do tempo a letra da música nos distrai por estarmos caçando o sincronismo entre o que está sendo cantado e a boca dos atores, revelando sua fraca estrutura, ainda que quase sempre embalada em uma dança pelo palco (e mais câmeras dançantes).
Mas o mais notável de tudo isso é que, aos trancos e barrancos, a mensagem de esperança funciona. É por causa dela que o sincronismo sonoro capenga das canções pode ser confundido com liberdade poética. É por causa dela que as cores berrantes podem ser confundidas com uma abordagem lúdica da natureza. E é por causa dela que as crises existenciais mais chinfrins (com o campeão sendo a da personagem de Lombardi) se misturam com o drama do dia-a-dia de pessoas comuns, rasas, mas muito das vezes, mais profundas que todos os roteiros complexos demais para levar em consideração o fator humano.
Talvez essa seja uma defesa rasa ao filme, apelando inocentemente pela esperança de uma cidade melhor para morar. Mas não sou ingênuo. A proposta do filme é boba e simplória. Mas é justamente por ser boba que tem a chance de dar certo. Pelo menos como uma viagem intimista.
“Amor em Sampa” (Bra, 2016), escrito por Bruna Lombardi, dirigido por Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli, com Bruna Lombardi, Eduardo Moscovis, Rodrigo Lombardi, Mariana Lima, Carlos Alberto Riccelli
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Queria saber quem é o autor e a letra da música TUDO VAI BEM cantada por Rodrigo Lombardi e ESPERANÇA por Mariana Lima