Cinefilia Crônica | À la O Irlandês


– Amor, não tô aguentando de sono. Pausa pra gente continuar amanhã?

– Não.

– Credo, que grosso, eu tô pescando aqui.

– Percebi, mas se parar agora, amanhã tem que começar tudo de novo.

– Tá louco?

– Eu não.

– Por que isso?

– Porque não existe isso de pausar um filme. Ou a vê até o fim, ou não vê.

– …

– Tô falando sério. Filme não pode ser picotado. Não é bolo pra cortar assim. Se a parar agora, vâmo ver amanhã desde o começo.

– Mas… qual a necessidade de ver tudo do começo se a gente já viu hoje? É só começar de onde parou, que frescura.

– Frescura nada, tem que ver do começo.

– Ou?

– Ou escolhe outro. Olha, te amo de coração, mas não sou de compactuar com coisa errada, sou certinho mesmo. Não conte comigo pra um crime desse.

– Mas não tem sentido rever tudo.

– O que não tem sentido é pausar um filme. Isso é pior que coito interrompido.

– …

– …

– Que comparação de merda. Vou lavar o rosto e a gente volta a ver o filme, chatão!

– Agora já foi.

– Como assim?

– Agora estragou tudo. A gente falava e o filme continuou, perdemos tudo. Já era. Ou a gente escolhe outro, ou recomeçamos tudo.

– Tá bom, tá bom. Amanhã a gente vê do começo, igual vale a pena ver de novo.

– Ó…

– Vamos dormir?

– Tenho uma ideia melhor.

– Qual?

– Nossa série…

– Jura? Cê disse que não aguenta a choradeira no hospital.

– Juro. Não aguento mesmo, mas bora?

– Bora!

– Mas vai lavar o rosto.

– Vou! Dá um play aí e pausa pra me esperar.

– Quê?

– Nada não.

– Em que episódio a gente parou?

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