Debi e Lóide 2 é ofensivo na maioria do tempo. É cheio de piadas politicamente incorretas com cegos, deficientes e idosos. Para completar, tem a dupla de protagonistas mais idiota que apareceu e aparecerá no cinema, sem contar uma história sem muito sentido que está lá só para possibilitar algumas cenas vexatórias. Mas não se engane, nem por um segundo sequer os irmãos Farrely pensaram em fazer algo senão exatamente tudo isso.
Talvez isso não o torne necessariamente bom, mas com certeza deixa a clara impressão de um trabalho muito bem feito. Naquilo que eles se propõe a fazer, Debi e Lóide 2 é um sucesso. Agora, se a proposta era ser completamente imbecil, e isso já deu certo 20 anos atrás, é por que existe sim um nicho de espectadores que morrerá de dar risada com o filme.
Mais ainda, será difícil que qualquer um que entre no cinema, até o mais sensível dos espectadores, não deixe uma gargalhada escapar vez ou outra. Talvez enquanto os protagonistas sacaneiam (mais uma vez ) o vizinho cego e seus pássaros (mas sem audição super desenvolvida!), ou até enquanto irritam um cientista com esclerose multipla em sua cadeira de rodas falando através de seu computador.
Debi e Lóide 2 está ai para ofender, mas mais do que isso, está ai para fazer chacota dos próprios personagens. A burrice e a estupidez de ambos é tão grande que percorre todo caminho do incomodo e da vergonha, dá a volta nesse círculo e volta ao início, à ideia inicial de ser engraçado. Absolutamente tudo que eles fazem durante o filme inteiro é produto dessa imbecilidade. Não existe cena nem sequencia onde a dupla faça algo minimamente certo. E quando ele se aproxima do final, até o que era sério se descobre uma pegadinha de um deles.
Uma rima narrativa (se alguém pensou que um termo fino desses não pudesse ser usado aqui, se estrepou!) que permite que o filme comece e termine empurrados por uma mesma ideia cretina. E se isso não pode deixar de ser celebrado em termos de estratégia dos diretores.
Os irmãos Farrely então conseguem arrumar uma desculpa para que os dois protagonistas saiam pelos Estados Unidos em busca da filha do personagem de Jeff Daniels, que ele descobre ter depois de receber uma carta de 1991, coisa que só acontece após ele reencontrar com os pais um tanto quanto orientais e chegar a conclusão que, na verdade, é adotado. E se isso não faz muito sentido, o bom mesmo é relaxar e aproveitar a enorme sequencia de idiotices que se seguem.
E talvez seja isso mesmo, ainda que Debi e Lóide 2 se escore nessa imbecilidade toda, o roteiro dos Farrelly (junto do o parceiro de longa data Mike Cerrone, do escritor do original Bennet Yellin e ainda da dupla John Morris e Sean Anders, de “Família do Bagulho”) se sustenta de modo preciso o suficiente para que ninguém no cinema se incomode com o andamento do filme. As peças estão no lugar, os conflitos à postos e o monte de personagens a serem zuados estão precisamente onde deveriam estar, resta então ao espectador apenas se divertir com isso.
E quem não se empolgar com a ideia de ver Jim carrey e Jeff Daniels mais uma vez fazendo um ótimo trabalho sendo completos estúpidos, muito provavelmente nem entre no cinema. O que mostra que realmente nem por um segundo sequer Peter e Bobby Farrelly não sabem onde estão pisando, muito pelo contrário, eles sabem quem vai entrar para ver seu filme e entregam a eles exatamente aquilo que mais esperam: algo completamente imbecil.
“Dumb e Dumber to” (EUA, 2014) escrito por Bobby e Peter Farrely, Sean Anders, Mike Cerrone, John Morris e Bennet Yellin, dirigido por Bobby e Peter Farrely, com Jim Carrey, Jeff Daniels, Rob Riggle, Laurie Holden, Rachel Melvin e Kathleen Turner