[dropcap]F[/dropcap]ilmes de guerra não são novidade. O Holocausto já serviu como tema de inúmeras obras, muitas primas, outras tantas medianas e/ou clichês. O diferencial de O jogo da Imitação, ironicamente, está no fato de a guerra não ser o foco do filme: afinal, seu protagonista encontra sua maior luta internamente e muito longe dos campos de batalha.
Benedict Cumberbatch é Alan Turing, um matemático contratado pelo governo britânico para, junto a um grupo de outros experts, quebrar o código Enigma, utilizado para comunicação pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Levando em consideração a complexidade do código, Turing conclui que apenas uma máquina poderia fazer o trabalho. Ele, então, segue para criar o que seria o primeiro computador da história.
A trama por si só parece interessante, mas a escolha de focar o filme menos na história e mais em Alan Turing é o que confere a O Jogo da Imitação suas maiores qualidades. A atuação de Benedict Cumberbatch é, sem dúvida, a melhor do ano passado. Sua intensidade em cena – que contrasta com a dureza e frieza do personagem – constroi um Alan Turing cheio de camadas, fugindo do unilateralismo e da comicidade que, por vezes, acompanham a interpretação de gênios com pouco talento para entender metáforas (vide Sheldon Cooper). Cumberbatch se entrega completamente ao personagem ao ponto de esquecermos o ator e focarmos apenas no sentimento – lembra a força de Anne Hathaway ao interpretar Fantine em Os Miseráveis. Sinto cheiro de Oscar.
Dito isso, as atuações são, realmente, a melhor parte do filme. Keira Knightley, como Joan Clarke, estabelece o elo de Turing com os demais integrantes do grupo contratado para quebrar o Enigma, e suas próprias lutas – por ser mulher, não é considerada tão capaz quanto os homens – mimetizam alguns dos conflitos internos de Turing. Os personagens constroem uma bonita relação, e a interação de Knightley e Cumberbatch é muito natural.
O Jogo da Imitação é envolvente, humano e inteligente. Apesar de o roteiro pecar um pouco nos vocábulos apropriados à sua época (“kick your ass” não é algo muito anos 1940), ele dá aos atores o material perfeito para desenvolver seus personagens e é isso que acontece: uma obra prima de elenco e um festival de lindas atuações.
“The Imitation Game” (UK/EUA, 2014), escrito por Graham Moore, à partir do livro de Andre Hodges, dirigido por Morten Tyldum, com Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Rory Kinnear, Charles Dance e Mark Strong