Depois de Um Sonho de Liberdade e A Espera de um Milagre, o diretor Frank Darabont prova para o mundo, e para os fãs de Stephen King, que também consegue levar para tela o gênero principal que levou o escritor a ser considerado “mestre do terror”. O Nevoeiro não é só uma ótima adaptação de um de seus contos mais bacanas, como também, antes de qualquer coisa, um filme de terror em toda sua essência.
Não mais um filme com um assassino serial a procura de vítimas adolescentes, mas sim um repleto de monstros vindo de alguma dimensão lovecraftiana qualquer, onde o humano não consegue fazer frente, e é isso que mais incomoda, tanto na obra de King, quanto nessa sua adaptação: Nenhum aberração gosmenta consegue ir contra ao maior de todos os monstros, o ser humano.
King gosta de falar que escreve sobre pessoas comuns que precisam enfrentar situações extraordinárias, e é exatamente isso que mais importuna um público acostumado a um mundo colorido e seus “felizes para sempre”. Darabont capta perfeitamente essa ideia e cria um filme que esfrega na cara do espectador que, as vezes, essas pessoas comuns não tem atitudes tão gloriosas.
Com um trabalho perfeito, fazendo o filme caminhar em um ritmo quase lento, com incríveis picos de emoção, o diretor não parece se apressar em nenhum dos dois momentos. Extrapola tanto os altos quantos os baixos dessa montanha-russa. Principalmente por que sabe que um não consegue viver sem o outro. Deixa tudo fluir tão bem, que as situações vão se amontando uma sobre as outras, deixando o cinema todo colado nas cadeiras.
A impressão que se tem, é que cada personagem é tão bem desenvolvido, que você passa a entender todas suas ações dentro da trama. Durante todo tempo ela (a trama) convive com o drama das pessoas tentando sobreviver entre si, no microcosmo do supermercado onde se isolam graças a um estranho nevoeiro, e com o terror, dos monstros que saem dessa névoa.
Dentro do supermercado, entre suas preteleiras, Deus, a razão, a ciência e a sobrevivência precisam lutar, em uma batalha que nenhum deles sairá ileso, e é isso que o diretor faz questão de mostrar: que em uma situação dessas ninguém está certo, e muito menos errado, há apenas aqueles que conseguem não perder a razão (ponto principal da maioria das obras de King).
Habilmente, Darabont vai destruindo todos esse pilares, não deixando pedra sobre pedra em seu fim, nada daquele Status Quo cinematográfico comum, mas sim algo mais parecido com um soco na boca do estômago, que será facilmente recusado e criticado pelo espectador, muito mais pelo incômodo da situação do que pela falta de verossimilidade, já que, o que ele faz é tenta ser justo ao resto da trama, mas isso, de um jeito tão visceral que, de frente para a tela, o espectador passa a não aceitar tal destino para os personagens que já estava tão acostumado a amar durante aquelas duas horas. Poucas vezes, pelo menos nos último anos, um filme aproximou tanto seus personagens do espectador, e muito menos vezes na história do cinema, um diretor sacrificou um filme desse jeito, pelo bem dele mesmo, sabendo que esse único final possível seria o único que condizeria com o resto da trama (além captar totalmente o clima do conto e seu fim), ainda que isso fizesse tão mal para seu espectador.
Darabont ainda é impecável quando não se deixa levar para o gore do filme, que não é pouco, se preocupando muito mais em criar todo clima em volta das sequencias de terror puro. Nada de sustinhos e música alta, sem subterfúgios, algo que pode atrapalhar o espectador pasteurizado, mas que vai acertar em cheio os amantes do gênero.
O Nevoeiro é isso mesmo, um terrozão empolgante, desesperançoso, que incomoda tanto que o grande público pode não conseguir lidar com isso, mas que quem consegue, ganha um filme que faz mais que jus a um gênero carente de boas produções.
The Mist (EUA, 2007) escrito e dirigido por Frank Darabont, a partir de um conto de Stephen King, com Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Laurie Holden, Nathan Gramble
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