É uma pena que O Último Desafio, antes de qualquer coisa, precise ser analisado e discutido como a grande volta de Arnold Schwarzenegger aos cinemas, já que o filme até funciona bem como um filme de ação descartável e divertido, mas ter de engolir o ex-governador da Califórnia é sempre um problema.
Também não há dúvidas da simpatia do ator, que “ganha a cena” assim que dá as caras (como fez em sua pequena participação em Os Mercenários, e em sua sequencia), mas é tremendamente difícil não se irritar com o sotaque carregado (ele está há mais de trinta anos no EUA!) e a completa ausência de emoção nos olhos de Schwarzenegger. É lógico que ele ainda solta frases de efeito e olhares cerrados como poucos heróis de ação da história do cinema, mas ainda assim, a não ser em parcas exceções é difícil que “toda essa qualidade” não sugue os “acertos” de qualquer filme.
Não também que O Último Desafio tenha “toda essa qualidade”, mas trabalha bem com o pouco que tem e acaba divertindo bastante quem conseguir relaxar e aproveitar essa tentativa de faroeste moderno.
Nela, Schwarzenegger é um xerife de uma daquelas cidadezinhas do interior dos Estados Unidos, uma daquelas que parece ter só uma rua e bem menos que uma dúzia de moradores, que, nesse caso, então todos fora torcendo pelo time de futebol local. Enquanto isso, em Las Vegas, um “famoso” traficante (“só menor que Pablo Escobar”) consegue escapar da guarda do FBI e fugir em um carro (“mais rápido que um helicóptero”) em direção à fronteira do México.
Todo esse “exagero” vai de encontro a (adivinhem?) pequena cidade de Schwarzenegger, que só conta com seus dois “deputies”, um desajustado local e veterano da guerra do Iraque (Rodrigo Santoro) e um maluco (Johnny Knoxville), para impedirem a passagem do traficante e ainda defenderem a cidade de sua equipe de mercenários que “preparam” a sua chegada.
Nada de muito criativo é verdade, mas ainda assim é difícil se irritar (muito) com O Último Desafio, principalmente por sua eficiência em ser um filme de ação esquecível. Daqueles que, pelo menos, não escondem, com humildade, essa vontade de se estruturar por meio de uma grande cena de ação anunciada que leva a um final óbvio e que diverte a todos no cinema. Somente um monte de gente atirando umas nas outras e uma briga entre Schwarzenegger e o traficante (vivido pelo ótimo Eduardo Noriega), tudo na mais perfeita previsibilidade. O que não, necessariamente, é algo ruim.
Quem sai perdendo mesmo em toda essa história é o interessante diretor coreano Jee-Woon Kim, que estreia em Hollywood com um trabalho “by the book” demais perto do que vem fazendo até aqui. Do interessante terror Medo até o tenso thriller Eu Vi o Diabo, Kim não chega nem perto da classe, criatividade e ousadia que vinha impondo em seus trabalhos, sobrando apenas para ele apontar sua câmera para os mesmo lugares que todos diretores o fazem quando tem em mãos um roteiro tão raso e superficial quanto o de O Último Desafio (escrito pelo iniciante Andre Knauer, mas “pasteurizado” por Jeffrey Nachmanoff e George Nolfi). Pior ainda, tendo como única obrigação dar a Schwarzenegger a oportunidade de voltar a ação.
Uma pena, já que, muito provavelmente, o diretor coreano tivesse mais chances de chegar a lugares bem interessantes se pudesse fazer um filme com seu nome, e não, simplesmente, fosse movido pelo nome do “Governator” no alto do cartaz.
Jack Reacher(EUA, 2012) escrito por Lee Child (livro), Christopher McQuarrie , dirigido por Christopher McQuarrie , com Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, David Oyelowo, Werner Herzog, Jai Courtney e Joseph Sikora.
Trailer