Dinheiro. Tudo em Oz: Mágico e Poderoso”se resume a dinheiro. A Disney para lucrar em cima de uma marca imortal como a de Oz, Sam Raimi, provavelmente, para juntar uma grana para seu monte de projetos pessoais (como o próprio remake de A Morte do Demônio), e até o próprio protagonista do filme, que adorou mergulhar em uma montanha de moedas de ouro, ao melhor estilo Tio Patinhas. A conta de tudo isso cai no colo do coitado do espectador.
Um público que pagará muito mais caro para ver o filme em 3D, mas que acaba sem conseguir se empolgar com uma história metida a besta e pretensiosa, que tem pouco em mãos a se estende além da conta de modo inevitável e até chato. Oz: Mágico e Poderoso tem pouco material para ser uma fábula infantil e pouca ação para rumar pela opção de uma aventura mais empolgante, que foi a escolha de seu “primo” Alice, aquele dirigido por Tim Burton e que compartilha o mesmo objetivo de lucrar com uma marca que estava parada (ainda que consiga fazer um trabalho com muito mais personalidade).
E talvez a maior diferença entre os dois seja que Oz acaba sendo impedido de revisitar o clássico que lhe deu origem (no caso o O Mágico de Oz, de 1939) por questões de direitos autorais. O que resulta em uma obra esquisita, que volta àquele mundo, mas não parece fazer isso de verdade. É lógico também que o roteiro escrito por David Lindsay-Abaire e Mitchell Kapner (o primeiro escreveu o recente A Origem dos Guardiões e o segundo é responsável pela comédia sem graça Meu Vizinho Mafioso) arrumam um jeito de desfilar algumas referências, principalmente aos três companheiros de Dorothy, mas ainda assim de jeito tão velado e bobo que acaba soando desnecessário.
Quem volta é o trio de bruxas, Theodora (Mila Kunis), Evanora (Rachel Weizs) e Glinda (Michelle Willians) e, obviamente, o Mágico de Oz (James Franco), que acaba caindo nesse mundo depois de entrar com seu balão em um tornado e descobrir que está fadado a ser o imperador desse lugar desconhecido e disputado por esse trio de moças. Em um esforço completamente sem necessidade, Oz: Mágico e Poderoso parece criar, diante disso, uma espécie de suspense com a real identidade daquela famosa bruxa má, mas logo isso fica óbvio e cai por terra qualquer dúvida e desmascara um filme sem qualquer personalidade.
Na verdade essa sabotagem começa nos créditos iniciais, quando a sombra da figura que ficou eternizada por Margaret Hamilton no filme original paira sobre o nome de uma das atrizes, e continua por todo o filme, já que fica difícil acreditar em toda história criada por uma das vilãs (e isso continua até o final, já que, por uma aparente e infantil birra da Disney, nem a “bruxa má do oeste” foge para o lado esquerdo da tela). Isso, e um descontrole com os personagens que impede o espectador de gostar de absolutamente qualquer um que aparece na tela.
Talvez compactuando de modo pouco natural com um certo cinismo de Glinda, muito mais por seu lado sonhador e comunista (“Salvar o povo!”, “Libertar o Povo!”) do que por aceitar fácil demais a personalidade pouco simpática do protagonista, além de compactuar com ele um jeito de “alienar as massas” para irem à guerra. E se em certo momento ela acusa o próprio Oz de ser dissimulado e aproveitador, o espectador é obrigado então a torcer por esse mulherengo inveterado (que tem o charme de um cachorro no sio) e que só é herói (pontualmente) e dois momentos de uma história que dura duas horas.
É verdade, porém que há acerto. Como a mão de um Sam Raimi ainda que no mais completo piloto automático, sem imprimir absolutamente nada de seu estilo mais exagerado, mas que começa com uma homenagem ao original nesse momento sem cores (como no filme de 1939) e em um formato de tela menor (1.33:1, próximo ao da época) para depois ganhar cores e uma nova proporção (em 2.35:1, opção que o diretor Victor Flamming não tinha em mãos, só mudando a cor, mas que com certeza também faria em relação a formato em O Mágico de Oz). Infelizmente uma mudança que ocorre ao apresentar uma Terra de Oz que pouco impressiona, talvez pelos cenários digitais meio artificiais ou até por um certo Deja-vu criado pela presença de Robert Stromberg tanto no Design de Produção daqui quanto no de Alice no País das Maravilhas de Tim Burton.
Esse piloto automático de Raimi só desliga, realmente, nesse primeiro momento, que valoriza o 3D, consegue ter um visual com muito mais personalidade nesse circo mambembe e, ainda por cima faz uma deliciosa brincadeira com dois elementos que fogem do formato de tela (uma labareda e uma pomba) e criam um efeito dimensional bem interessante. Um início promissor que acaba tropeçando em efeitos digitais demais e falta de humanidade.
Uma falta de identificação com um filme que está bem longe de ter protagonistas simpáticos como a Dorothy e o Totó, assim como nem chega perto de companhias interessantes como o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão, não mata a saudade de quem se encantou com o filme de 1939, resume a maldade da Bruxa má do Oeste a um coração partido e, pior ainda, não parece nem ao menos criar o interesse de alguém para ver aquele que até hoje é um dos maiores clássicos do cinema. Realmente uma conta que fica cara para o espectador.
Oz Great and Powerfull, escrito por Mitchell Kapner, David Lindsay-Abaire e L. Frank Baum (livros), dirigido por Sam Raimi, com James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz, Michelle Williams e Zach Braff
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