Cores, muitas, todas meio plastificadas, uma edição esquisita que trata os planos da imagem separados, como se os fundos tivessem uma história diferente para contar, uma câmera que passeia por todo cenário digital sem fronteiras físicas, uma história rasa como um pires e personagens caricatos, é assim que os irmãos Wachowski conseguem fazer Speed Racer dar certo.
E é desse mesmo jeito que se consegue perceber a consciência cinematográfica que a dupla tem ao fazer um filme desse tipo, que beira o infantil, mas que pode ser apreciado por qualquer adulto que se predisponha a encarar esse mundo. Nenhuma decisão ali parece ter outra razão a não ser contar, do melhor jeito possível, a história do jovem corredor Speed Racer (Emile Hirsh) que tem que enfrentar o fantasma de seu irmão e ainda não cair nas garras das megacorporações malignas que só querem dinheiro e não se preocupam sobre quem vão passar por cima.
Desde os créditos do estúdio, antes do início de Speed Racer, onde um tom sessentista/setentista (leia-se até psicodélico) é inserido, todo resto do filme é uma exagero visual, desde as cores carregadas até os cenários e os figurinos, tudo parece pular para fora da tela. Como se fosse desenhado direto nela (na verdade foi, por meio de muitas telas verdes e computação gráfica).
Esse visual só prepara o espectador para toda insanidade cinematográfica dos irmãos Wachowski, que além de uma câmera que parece não ter amarras, que vai de um ponto a outro, ignorando qualquer distância, ainda ganha uma velocidade vertiginosa quando é dividida, criando quase um filme em camadas. É fácil ver sequencias onde o primeiro plano e o mais distante ao fundo se encontram em um foco perfeito, e isso vai mudando de acordo com a necessidade do filme (e bem verdade, muitas vezes ao prazer dos cineastas).
Isso pode parecer besteira, mas, além de dar toda cara de desenho animado que não quer fazer ninguém gastar mais de dois neurônios por exibição tentando entender o que está vendo, é uma ferramente que fica o tempo todo apontando com o foco para onde você deve olhar (coisa normal, só que aqui entra o exagero), mesmo que seja para mais de um lugar ao mesmo tempo. Tudo fica mais claro ainda quando as imagens começam a se fundir, andar de um lado para outro e entrar e sair da tela sem atrapalhar um primeiro plano com um personagem. Não são poucas as vezes que alguém tem um flashback em seu fundo, explicativo e visual, narrado por ele mesmo na frente das imagens, como se o espectador pudesse estar compartilhando do que está passando em sua cabeça.
Quase um mosaico de informações, como se nada precisasse de diálogos, tudo podendo ser transmitido por imagens e ações, simultâneas, ou não, e isso talvez seja um dos pontos que mais impressione, a montagem da dupla Roger Barton e Zach Staenberb, que por pouquíssimo não fazem o filme infantil virar algo não linear, mas que com isso dão uma riqueza impressionante as sequencias.
Em nenhum momento a história se rende a uma linha de tempo careta e sem graça, as coisas podem acontecer ao mesmo tempo que no presente, mesmo que elas estejam no passado, e o melhor, no futuro. Um devaneio, quando se menos percebe é uma visão do futuro, que é concretizada e rapidamente se transforma em passado, tudo em um piscar de olhos, ou em um corte, ou até na mesma imagem, com seu fundo dançante.
É óbvio que todo esse tom cartunesco possibilita que qualquer coisa se encaixe nesse contexto, sem perder o charme do desenho, seja uma arma que atira uma colmeia repleta de abelhas em outro carro, sejam os saltos mortais dos automóveis em suas corridas à lá “Hot Wheels”. Tudo isso ainda por cima dá carta branca para interpretações das mais cartunescas, sem a mínima preocupação com exageros, principalmente dentro de figurinos saídos direto do próprio desenho, em uma trabalho sensacional de caracterização.
E Speed Racer é exatamente isso, um filme visual, onde tudo acontece diante de seus olhos, que ainda tem qualquer sequencia interrompida para uma ou outra palhaçada de Gorducho (irmão de Speed) e seu macaco, que não se preocupa em ser mais do que lhe é permitido: um filme de aventura honesto e acima de tudo divertido, que com ceteza merece uma chance.
idem (EUA,2008) escrito de dirigido por Larry e Andy Wachowski com Emile Hirsch, John Goodman, Susan Sarandon, Christina Ricci, Matthew Fox
2 Comentários. Deixe novo
Divertido!! Mais um ótimo trabalho do ator John Goodman. Estou na expectativa de sua participação na 3ª temporada de Treme que é a combinação perfeita de ótimos atores e uma história muito inspiradora que mostra a população de Nova Orleans na reconstrução de suas vidas, suas casas e culturas após o furacão Katrina. Quero muito ver a nova temporada.
Não gostei do filme, mesmo tendo essa porposta caricata. Achei forçado de mais e exgerados os efeitos, além é claro, muito mal feitos. Não sei se os efeitos toscos foram propositais, acredito que sim, porque os criadores de matrix não fariam algo tão gortesco se não fosse proposital.
Ainda é cansativo e o exagero de “ação” dá sono. Meu afilhado de 5 anos dormiu no filme. Eu quase dormi também