Virgínia, mais recente filme de Francis Ford Coppola, nasceu de uma ideia tão encantadora, criativa e moderna que saber que ela não deu certo só é pior do que perceber que o que restou é uma porcaria sem precedentes. Mas uma coisa de cada vez, primeiro o que poderia ter sido.Virgínia poster

A proposta era uma espécie de “montagem ao vivo”, onde o diretor iria excursionar com o filme por um número fechado de exibições e, através de uma “aplicativo modernoso”, iria ditando os rumos do filme ali mesmo, na hora. Criando assim uma experiência rica e única para cada um no escuro daquela sala. Coppola chegou até a testar o dispositivo em uma San Diego Comic Con, mas ficou por ai mesmo, o projeto não foi para a frente e a solução foi grudar tudo de algum jeito e lançar.

E a primeira impressão é que Virgínia não só foi lançado, como foi lançado de qualquer jeito. E pior ainda, é difícil até acreditar que o resultado pífio pudesse ser diferente apenas com uma montagem diferente. A impressão que fica é que tudo estava fadado ao desastre desde os primeiros momentos. Talvez culpa da ideia grande demais que não deixou espaço para se “perder tempo” com um roteiro melhor, ou talvez simplesmente mais um pouco dessa nova faceta do diretor de O Poderoso Chefão.

Sim, essa “nova persona” que precisa de dois parágrafos inteiros de “mea culpa” para tentar entender onde foi parar aquele gênio do cinema. Um mestre que deu lugar a um diretor que faz um trabalho tão superficial em Virgínia, que poderia ser substituído por algum jovem estreante e ninguém iria perceber. Um diretor que aposta em metade de um filme passado na mente (no sonho) de um personagem e o máximo que consegue fazer é criar uma fotografia ora azulada, ora P&B (com detalhes coloridos, como o sangue) e não tentar colocar por baixo disso nem um mínimo resquício daqueles significados que sempre incrementaram suas obras (até o fraço “Tetro” se dá muito melhor nesse sentido).

Virgínia Filme

Uma história sobre um escrito de terror de segunda linha (vivido por um Val Kilmer apagado e que só tem um momento bom no filme inteiro, imitando Marlon Brando) que chega a uma cidade qualquer para promover seu mais novo livro. E por um segundo, junto com a narração de Tom Waitts, Virgínia funciona, mais como uma sátira é verdade, mas funciona. Swan Valley então é uma cidade “escondida”, com “algo sombrio”, que pode ser resultado de um assassinato de um grupo de crianças ou por causa dos “jovens do outro lado do rio”. Talvez um cheiro de Twin Peaks, da esperança de um mistério e de alguns bons personagens para perambular pela trama.

Mas essa diversão dura pouco, e se o tom caricaturesco e exagerado era proposital o tiro sai pela culatra, já que no resto do tempo o que se tem é uma trama insossa sobre esse escritor tentando buscar inspiração para seu novo livro. E isso acontece um pouco através da ideia de um xerife (vivido mal e porcamente por um exagerado Bruce Dern), que mistura um cadáver em seu necrotério e vampiros (“os tais jovens do outro lado do rio”). Sem esquecer ainda dos tais sonhos, onde Kilmer passa a trocar ideia com ninguém menos que Edgar Allan Poe e, ainda por cima, presenciar os tais crimes que tornaram a cidade “meio sombria”, tudo sob os olhos de uma fantasma vivida por Elle Fanning.

Mas Virgínia deixa questões, se Copolla estava em busca de uma espécie de desconstrução narrativa ou simplesmente errou feio demais? Se em certo momento ele decida entortar o eixo da câmera por alguma razão técnica, brincadeira ou simplesmente imprimindo um significado tão profundo e escondido que ninguém consegue perceber qual é? Ou até se tudo se soluciona de modo tão frágil, irreal e sem empolgação por que “você” não entendeu nada? Ou simplesmente se aquele cineasta que mudou a história do cinema ainda existe em algum lugar escondido nesse desastre completo?


“Twixt” (EUA, 2011), escrito e dirigido por Francis Ford Coppola, com Val Kilmer, Bruce Dern, Ell Fanning, Alden Ehrenreich e Ben Chaplin


Trailer do filme “Virgínia”

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