Depois de um periodo politicamente complicado é hora de respirar. As previsões mais exageradas e dramáticas não se concretizaram, mas ainda assim é hora de celebrar. E nada mais good vibes que este A Alegria é a Prova dos Nove, da diretora e atriz Helena Ignez, que é o oposto perfeito do clima de desânimo do passado. O deboche dos estereótipos montados pelo “outro lado” com energia e positividade.
Seu núcleo é o casal formado por Ney Matogrosso, que faz o ex-hippie Lírio Terron, e Jarda Ícone, interpretada pela própria Ignez e que se define no filme como “artista, sexóloga e roqueira octogenária”. Eles estão em idade avançada e revivem momentos revolucionários com nostalgia. Antes eles eram um casal, mas agora eles são afetividade pura. Seus amigos de hoje chegam em cena e recriam um ambiente com novos desafios que são diferentes dos da época da ditadura, mas a “prova dos nove” do título é justamente entender se o caminho está correto retirando-se as diferenças.
E está. Em meio a performances artísticas viscerais e o ócio criativo de quem tem dinheiro e se preocupa com a fome no mundo, A Alegria… é uma provocação do bem, difícil de desgostar porque é feito com muita paixão. Esse caos na estrutura é a cereja de cima do bolo de um trabalho denso que pode ser revisto ao longo dos próximos anos de uma transformação sócio-política que hoje promete muito esperando que não se mantenha no clichê e não fique sem cumprir nada.
No final há uma performance de tom azul que é tão vibrante que merece seu próprio curta. É o momento de êxtase que estávamos todos esperando em um filme que é porta-estandarte de um movimento que está apenas começando.
“A Alegria é a Prova dos Nove” (São Paulo/Br, 2023); dirigido por Helena Ignez
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