A Autopsia Filme

A Autópsia | Um barulho no necrotério sempre te fará olhar por sobre o ombro


Um barulho no necrotério sempre te fará olhar por sobre o ombro. E A Autópsia leva bastante isso em conta para conseguir fazer com que essa história funcione na maior parte do tempo, até mesmo quando descamba para uma conclusão preguiçosa e que não reflete o resto do filme.

Sim, entre trancos e barrancos, o primeiro filme em Hollywood do finlandês André Ovredal (do esquisitão O Caçador de Trolls) funciona mais do que erra, mas tinha tudo para deixar esses defeitos de lado e ser um filmão.

A Autópsia tem o clima perfeito, tem um começo incrivelmente empolgante e atola os espectadores de dúvidas e receios. E tudo isso em um visual acima da média, com diálogos interessantes e dois personagens que funcionam, mas em um momento tudo precisa ser fechar e o que sobra é uma bagunça com defuntos andando por ai em um filme de terror ¿bezão¿ qualquer.

O tal começo é um trabalho estético lindíssimo onde Ovredal diminui o ritmo do gênero e aos poucos vai entrando nessa casa linda por fora, mas que por dentro se transformou em um massacre. Mas uma única coisa não se encaixa em todas essas mortes: o corpo de uma mulher meio enterrada em seu porão. A responsabilidade de ligar ela ao resto da cena do crime acaba ficando nas mãos de dois legistas locais vividos por Brian Cox e Emile Hirsch.

Cox e Hirsch são pai e filho donos de uma espécie de necrotério na parte de baixo da casa (vulgo porão também). E tudo começa a ficar realmente estranho quando começam a não conseguir entender a causa da morte dela. Mas é sua presença ali que em pouco tempo começa a despertar alguns fenômenos bem estranhos.

Ovredal realmente cria um filme interessante para se mergulhar, mas quando você descobre que ¿dá pé¿, você também perde o interesse. Enquanto estão lá, às voltas com uma série de mistérios que vão se revelando e criando um cenário ainda mais esquisito, tudo caminha para um suspense de mão cheia, onde tudo é sobrenatural, mas podia ser qualquer outra coisa. Decisões sutis, misticismo, barulhos misteriosos, rádio mudando de estação. E ainda que todo aquele visual dos primeiros momentos do filme tenham ficado só lá no começo e tudo agora se torne bem mais ¿normalzinho¿, ainda assim um interesse pelo caminho que a trama poderia pegar é divertido. Mas ai tem o sininho do defunto.

A Autopsia Crítica

Lá para o começo, enquanto mostra para a namorada do filho um cadáver, é apresentado um sininho preso ao pé do morto ¿para o caso dele não ter morrido e se mexer dentro da gaveta¿. É lógico que isso será usado em algum outro momento, mas a solução para isso é o retrato de um filme que não sabe o que fazer com suas ambições. O ¿cara com o sininho¿ não só levanta por aí, como ataca, bate nas porta e faz todos que estavam interessados em um climão ¿irem embora¿ do filme.

Ao invés de relances e aparições que brincam com a imaginação, Ovredal prefere o susto barato, o acorde alto e até uma desculpa esfarrapada para acabar com a luz do lugar. Um subterfúgio que só não é pior do que aquele que enche o lugar de fumaça.

Pior de tudo é isso acontecer enquanto uma trama acerta na mosca da maioria de suas decisões. Tanto na relação do pai com o filho, quanto no modo como acabam tendo que lutar contra tudo aquilo que acreditam para tentar enfrentar isso, ¿aqui embaixo não tentamos encontrar a razão, somente a causa¿. Melhor ainda, A Autópsia acerta em criar personagem que são pegos de surpresa dentro de uma situação limite.

¿What ¿tha¿ fuck is going on¿ grita o filho enquanto realmente percebe que o ¿mundo real¿ está de cabeça para baixo (como o primeiro plano do filme), uma reação que basta para o espectador acreditar e mergulhar naquela situação, mas logo é despertado por um filme de terror comum e desinteressante.

No final das contas, em uma rima que poderia ser melhor amarrada se tivesse o mesmo cuidado estético do início, A Autópsia mostra que poderia ser um daqueles filmes de terror que poderiam ser lembrados dentro dessa nova safra do gênero. Infelizmente acabará sendo esquecido, justamente, por não ter a personalidade de ser ele mesmo e tentar ser um exemplo qualquer só para fazer o público pular no escuro do cinema.


“The Autopsy of Jane Doe” (EUA, 2016), escrito por Ian B. Goldberg e Richard Naing, dirigido por André Ovredal, com Brian Cox, Emile Hirsch, Ophelia Lovibond e Olwen Catherine Kelly.


Trailer – A Autópsia

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