Se A Barraca do Beijo 3 tem como principal objetivo fazer com que o primeiro filme se torne um acerto, então o tiro foi na mosca. O terceiro filme da série demonstra apenas que o fundo do poço não tem fundo, ou tem, já que, se tudo der certo, não veremos nunca um quarto filme.
Os erros continuam lá. Toda uma história calcada em uma obsessão imatura de absolutamente todos os personagens, com pitadas de um machismo que ultrapassa o estrutural e ainda um desfile de motivações mal estruturadas ao redor dessa espécie de trisal tóxico.
O filme da Netflix começa como os anteriores, com uma montagem cheia de imagens coloridas e cortes rápidos que acompanham Elle (Joey King) em seu começo de verão. A dinâmica continua a mesma, continuando a namorar com Noah (Jacob Elordi), irmão de seu melhor amigo, Lee (Joel Courtney). O trio ainda tem de coadjuvante a coitada da Rachel (Meganne Young), namorada de Lee, mas ela realmente não importa para nada no filme.
O resquício de trama que move o filme é então a decisão de Elle de ir para a faculdade. De um lado, Harvard que pode proporcionar uma vida juntos para Elle e Noah, do outro, Berkley que é o sonho de infância de Elle e Lee. Mas isso também deve tomar uns vinte minutos da história toda, o resto é tomado por um monte de bobagens que infantilizam os personagens e demonstram o quanto cada um dos personagens está despreparado para qualquer tipo de vida emocionalmente adulta.
E se essa imaturidade ainda poderia ser uma desculpa para as ações do filme interior, usar essa desculpa novamente para tratar os espectadores como idiotas sem bom senso. Se o tiverem, talvez se irritem com isso tudo e acabem largando o filme de lado na quinta vez que uma narração da própria Elle entrar em cena explicando alguma obviedade da cena ou alguma emoção que a personagem deveria estar sentindo e o espectador entendendo sem a ajuda dela.
Talvez escutar o que a personagem está pensando pudesse ajudar a entender como é possível a protagonista ser tão diminuída diante dos personagens ao seu redor. É lógico que parte da mensagem final do filme conversa justamente sobre isso, usando a Molly Ringwald como Deus Ex Machina, mas depois de tantos equívocos, a diminuição da personagem diante dos irmãos beira a violência emocional e psicológica.
Não existe Elle, mas sim “a melhor amiga do Lee” ou “a namorada do Noah”, e depois de dois verões lidando com isso, encarar mais uma vez o mesmo problema é digno de raiva. Pior ainda, mesmo completamente egoístas e obsessivos, a redenção dos dois é feita através do sofrimento da protagonista e dela ultrapassar esses problemas deles através da maturidade que sua evolução arranha.
Falando em egoísmo e obsessão, quem achava que Freud estava errado, o roteiro ainda introduz na história de Elle um conflito com o pai e a nova namorada, já que, aparentemente, o viúvo não poderia arrumar um novo amor já que a mulher não seria a mãe da personagem e nem ela está preparada para que o pai conviva com outra mulher. Resumindo, a toxicidade de todas relações de Elle alcança absolutamente todos locais possíveis de sua vida, e sobra culpa para ela também, que se comporta como uma idiota diante da “nova namorada” do pai.
Isso tudo com um desfile infindável de interpretações ruins. Absolutamente todos atores envolvidos no elenco fazem trabalhos ruins, sem emoção e robóticos. Curiosamente, os “erros de filmagem” ao final demonstram que todos parecem muito mais à vontade com o material que não entrou no filme. O que coloca o erro diretamente no colo do diretor Vince Marcello, que, além de não conseguir dar conta de seu elenco, consegue construir as piores composições, os mais mal feitos “chroma-keys” e aceitar as piores iluminações de cenas.
Marcello ainda é um dos responsáveis pelo roteiro junto com Jay S. Arnold, então o desastre é completo e a vontade de chegar ao fundo do poço é gigantesca. Mas pelo menos faz com que o primeiro filme se torne uma pérola. Talvez essa afirmação seja um exagero ou seja apenas um desespero para entender a razão dessa história ter chegado até aqui e não parado logo no começo do primeiro filme. Nessa realidade alternativa, Elle descobria logo de cara que nenhum dos irmãos Flynn eram uma boa para ela. Também descobre que o filme não seria bom para nenhum espectador e acabaria com o nosso sofrimento ali mesmo.
“The Kissing Booth 3” (EUA, 2021); escrito por Vince Marcello e Jay S. Arnold; dirigido por Vince Marcello; com Joey King, Joel Courtney, Jacob Elordi, Molly Ringwald, Taylos Zakhar Perez, Maisie Richardson-Sellers e Megane Young.