O maior destaque de Barraca do Beijo 2 é sua duração de 130 min. Se beira o impossível imaginar como o roteiro do diretor Vince Marcello em parceria com Jay S. Arnold irão conseguir encher isso com uma história que faça sentido, tudo bem, você está correto, eles não são capazes de fazer isso.
Esse segundo filme continua a história do primeiro, de 2018, que é um dos 10 filmes mais vistos da Netflix e foi baseado no livro de Beth Reekles. O primeiro tinha 115 minutos de duração e já era inflado.
A boa notícia disso tudo é que, enquanto o primeiro era uma peça de propaganda machista, esse segundo é só uma comédia romântica ruim. Existe ainda uma pitadinha de deturpação social (machismo mesmo…) e uma esquizofrenia narrativa que beira uma mistura de Instagram com déficit de atenção, mas sobre todo esse desastre, Barraca do Beijo 2 é só mais uma produção descartável que pensa estar falando com adolescentes, mas, muito provavelmente está conversando apenas com uma fatia menos esperta desses jovens.
O filme começa exatamente de onde o outro terminou, com Elle (Joey King) se despedindo do grande amor de sua vida, Noah (Jacob Elordi) no aeroporto, enquanto ele vai para Harvard e ela fica ali para seu último ano no colegial. O que vem na sequência é uma montagem à jato onde Elle curte suas férias de verão em um namoro a distância, perto do melhor amigo Lee (Joel Courtney) e sendo narrada por ela mesma com todo esforço narrativo possível para ser engraçadinho e ágil. Tudo bem, você vai perder um monte de coisas, mas no final vai chegar à mesma conclusão da personagem, talvez Noah não seja o grande amor de sua vida.
A própria trama não parece se preocupar muito com esse detalhe, já que, depois que as aulas começam, ela passa por todas essas incertezas mais uma vez, tanto com a ajuda do ciúme, quanto com a presença do jovem latino saradão Marco (Taylor Zakhar Perez), que chega à escola com um corpo besuntado de óleo enquanto “puxa ferro”.
Marco ainda se misturará na sub-trama que envolve Elle e Lee concorrendo em um campeonato gigante da versão árcade do Just Dance, jogo onde os dois dançam enquanto pisam nas setas coloridas. A tal da Barraca do Beijo está lá para o final, não se preocupe, já que ela serve para juntar uns novos casais e servir de reconciliação para outros.
O que importa é que todo mundo continua lindo e sarado, o sol continua a brilhar e o elenco surge um pouco mais “colorido” com a presença de um crush “não branco” para cada lado do casal. A impressão é de algo que não encaixa no cenário geral, uma preocupação com uma certa diversidade que soa desengonçada. Principalmente se você desviar o olhar dos personagens principais e for passear nos fundos cheios de extras. Mas tudo bem, melhor do que nada, o que seria realmente bacana é que todo o resto não fosse uma bobagem tão gigantesca.
Em certos momentos a direção de Marcello aposta em gags com cenas aceleradas e olhos arregalados, em outros um slow motion digno dos Trapalhões, em ambos, a impressão que ele não sabe o tom que quer imprimir em seu filme. No resto do tempo, tudo parece meio quadrado demais, tanto sem o ritmo da “montagem de verão”, quanto menos com esse humor que não cabe em seu público. Barraca do Beijo 2 não deixa nunca de ser uma comédia romântica adolescente, mas precisa encher aquela duração toda com alguma coisa, e o resultado é desastroso.
Reclamar do vazio das relações, do drama exacerbado e dos conflitos que poderiam ser resolvidos com um pouco de conversa seria o mesmo que não compreender que estamos falando de jovens, não de adultos experientes que tem respostas para tudo. Portanto, essa dinâmica é necessária para que os personagens sejam minimamente realistas. Entretanto quando essa briguinha de casais ciumentos estraga o almoço de Dia de Ação de Graças das famílias todas, é difícil não achar que esses personagens precisariam ter uma âncora emocional nos personagens adultos para aprender qualquer coisa. A solução é o contrário, e ao melhor estilo Charlie Brown, não importa o que ninguém com mais de 30 anos fala. Nem sabemos se eles estão realmente no filme (azar da Molly Ringwald!)
E por mais que Barraca do Beijo 2 dê mais espaço para o desenvolvimento emocional de Elle, que precisa lidar melhor com suas decisões e tem mais tempo de tela para ela mesma, seus erros continuam sendo o que movimenta a trama, enquanto nenhum personagem masculino parece ter culpa de nada, mesmo com as desculpas mais furadas. Os erros que Lee comete com a namorada (Meganne Young) são dignos de uma personalidade horrível, desculpar esse cara no final beira o absurdo, mas para o roteiro, isso pouco importa, só o “feliz para sempre” é que deve ser levado em consideração.
E nada disso pode ser ignorado, muito menos a quantidade enorme e fragmentada de pedaços de trama que vão se empurrando pelo direito de estarem na tela. Parece não haver vontade nenhuma de escolher apenas aquilo que acrescentaria na trama, uma decisão enxada e que torna Barraca do Beijo 2 um esforço de paciência imenso.
Talvez saber os próximos passos do amor de Elle e Noah fosse uma desculpa mais que suficiente para fazer uma comédia romântica adolescente de 90 minutos, com todos elementos de ciúmes, transformação em “adulto” e dúvidas, mas o que está além disso, esses 40 minutos que aparentam estarem sobrando, fazem de Barraca do Beijo 2 um desperdício. Nossos jovens decididamente mereciam mais que toda essa bobagem.
“The Kissing Booth 2” (EUA, 2020); escrito por Vince Marcello e Jay S. Arnold; dirigido por Vince Marcello; com Joey King, Jacob Elordi, Joel Courtney, Taylor Zakhar Perez, Masie Richardson-Sellers, Meganne Young e Molly Ringwald.