A Caçada Filme

A Caçada | Podia ser um filmão, mas escolhe outro caminho

Se você nunca pensou o quanto a indústria de cinema de Hollywood pode prejudicar um filme, depois de ver A Caçada talvez seja um bom momento para isso. É graças a ela que um assunto pertinente, uma trama bacana e boas atuações vão para o ralo quando a necessidade de um produto pasteurizado é maior do que a de fazer algo que valha a pena de ser visto no cinema. Coisa que não acontece.

Essa pressão parece ser a maior responsável por não deixar o filme de Richard Shepard, que recentemente tinha acertado com O Matador, criar uma personalidade, um alvo para ser atingido. Se a legenda no começo sobre a veracidade dos fatos e “somente as partes ridículas” dela, e o final comprovando quais delas são verdadeiras poderia criar um clima divertido e humorado, tudo que se encontra nesse meio parece perder o tom. Consequentemente toda apreciação do espetador se esvaindo junto.

A história sobre o trio de jornalistas, correspondentes de guerra, que, durante uma comemoração de aniversário do fim do conflito de Saravejo, resolvem ir atrás de um dos maiores criminosos de guerra do mundo, e que acabam sendo confundidos com agentes da Cia, por sí só anda com as duas pernas, principalmente graças ao tom de galhofa, mas a necessidade de dar um fundo dramático para tudo aquilo destrói totalmente o filme.

Ao invés de seguir um caminho até o fim, o roteiro escrito pelo próprio Shepard fica o tempo todo indo e vindo em um drama desnecessário, principalmente no que consiste aos personagens, como se parecesse querer dar uma razão vingativa para eles (muito mais com o personagem de Richard Gere é verdade). Algo pessoal e que não combina com o tom, já que uma comédia mais escrachada chamaria muito mais atenção e não obrigaria o espectador a ter que ficar revisitando um passado amargurado que  combina pouco com ele.

Além de acabar tirando um pouco o absurdo da situação, já que o simples “jornalistas em busca de uma reportagem” se perdendo dentro de suas mentiras e tendo que encarar suas decisões já daria razões suficiente para os personagens irem até onde vão. E mais, quando aponta todo drama para um deles, os outros dois ficam com cara de manipuláveis, fracos e sem força dentro da trama.

E esse parece ser o maior erro, não confiar no próprio taco e se apoiar em um drama que tenta a todo custo comover o espectador, mesmo quando nada disso seria necessário, já que só o contexto da história, de seus horrores da guerra e todo visual pós-conflito já se encarregaria disso. Mesmo os diálogos ágeis e inteligentes sofrem, já que parecem se obrigar mais a dar contexto para um drama dos personagens do que discutir o assunto da guerra, só arranhando a superfície, já que, claramente teriam a possibilidade de mostrar muito mais.

Enfim, é essa péssima tentativa de dramatizar a trama que destrói uma história que andaria sozinha, já que o roteiro de Shepard, uma adaptação de um artigo da revista Squire escrita pelo jornalista Scott Anderson é uma pérola, e por sí só já daria um ótimo filme. E o melhor, apostando em um absurdo da situação que acaba ficando perdido por trás dessa obrigatoriedade de aprofundar os personagens e as situações, já que Hollywood quer dramas pessoais e personagens sofridos, não deixando espaço para os normais, que as vezes valem muito mais.

Mesmo assim, A Caçada é um filme que vale a pena por ter um mínimo de cérebro, uma pertinência que parece ficar mais no fundo do que deveria, mas ainda assim é facilmente enxergada. Um discurso anti-guerra que vai agradar a quem procura algo um pouco mais profundo em um filme, além de um humor mais fino, que acaba mostrando que os melhores roteiros ainda acontecem na própria vida.


The Hunting Party” (EUA/HRV/BIH, 2007) escrito e dirigido por Richard Shepard a partir do artigo de Scott Anderson, com Terence Howard, Richard Gere e Jesse Eisenberg


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