A Câmera de Claire Filme

A Câmera de Claire | Um “snapshot” da vida real


[dropcap]O[/dropcap] que é uma foto senão um único snapshot da vida real? E se é apenas um snapshot no tempo, o seu movimento para frente é o que torna as pessoas diferentes. Só alguém muito sensível para perceber isso, e apesar de não estar inserida na história principal, A Câmera de Claire é essa “pessoa”.

Isso porque a pessoa Claire, mesmo, sequer é uma personagem. Ela é uma narradora onisciente que captura através dos seus momentos em Cannes uma história a ser contada. Ela se apresenta como professora de música, e é apenas uma música que esse filme contém, na sua primeira cena e na última. Ela também é poeta e tira fotos, e tenta encontrar em cada um seu lado artístico. Suas fotos parecem ter a única função de capturar um momento, contar uma história e mudar as pessoas. E é exatamente sobre isso que fala o Cinema.

Já sobre as cenas do filme, elas ocorrem em cenários definidos, em planos que nunca mudam e com direito ao zoom mecânico de uma câmera, exatamente como a câmera de Claire, que aproxima o cenário para capturar seus personagens. O enquadramento coloca elementos em cena ocasionais que criam uma sensação de pertencimento, e não de um cenário criado para um filme. E o design de som, em escolher utilizar o ruído de fundo de qualquer lugar aberto, como pessoas falando, carros passando, e as próprias falhas nas voz das pessoas, como a falta de ritmo, tornam todo o conjunto como uma experiência da vida real transposta como ficção.

Mas além de ouvirmos o som ambiente o tempo todo também o que é dito é relevante por não dizer muita coisa (mais um traço da vida real). As falas, em inglês simples, são parte do small talk do dia a dia. Uma prova disso, além do vocabulário, é que palavras são repetidas todo o tempo. Note a pobreza na comunicação quando se comenta que fulano gosta de beber. Isso é comentado três ou quatro vezes na mesma fala, e em cada uma delas existe uma tentativa diferente de comunicar o mesmo fato com um certo juízo. Exatamente como pessoas tentam se comunicar, mas por não serem dotadas da magia de sintetizar intenções como roteiristas no Cinema, acabam cambaleando entre as palavras.

A Câmera de Claire Crítica

Existe um motivo interno para o inglês “pobre”, já que na história contada Claire é francesa e seus personagens são coreanos. Mas além dessa ser uma desculpa ótima para a abordagem cotidiana, a coisa não para por aí. Este é um filme onde os próprios acontecimentos marginais ocorrem como na vida real, onde a mecânica não apenas reflete, como simplesmente é. Onde para atravessar a rua as pessoas precisam estar atentas com os carros e onde nem sempre a faixa de pedestres está desobstrúida.

Os pedaços do tecido cortado pela menina do filme por raiva lembram os polaroides de Claire. Em um dos momentos finais do filme a vemos tentando vestir um pedaço desse tecido, que ela considera de qualidade fabulosa. Texto e tecido estão relacionamentos etimologicamente, do Latim textum, “tecido, entrelaçamento”. E a Câmera de Claire é essa máquina de costurar, que conta uma história através de suas fotos, que revelam momentos entrelaçados. A textura dessa história depende dos seus personagens, que estão vivos, nas ruas, e mudam toda vez que uma foto deles é tirada.


“La Caméra de Claire” (Fra/Cor, 2017), escrito e dirigido por Sang-soo Hong, com Isabelle Huppert, Min-hee Kim, Mi-hee Chang.


Trailer – A Câmera de Claire

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