A Culpa é das Estrelas | Crítica do Filme | CinemAqui

A Culpa é Das Estrelas | Vale cada lencinho molhado de lágrima


Vez ou outra o cinema sempre é invadido por um daqueles filmes que se tornam fenômenos maiores do que eles, talvez a ¿bola da vez¿ agora seja A Culpa é das Estrelas. Mas nem por isso existe algum desmérito nessa afirmação, muito pelo contrário, se o filme de Josh Boone tomar de assalto as bilheterias é por que vale cada lencinho molhado de lágrima.

E grande parte disso parece estar não no filme, mas em sua raiz, no livro escrito por John Green que é um sucesso enorme de vendas desde seu lançamento (2012). Na concepção inicial da ideia de contar a história dessa jovem com câncer que sobrevive graças a uma medicação experimental, mas vive cada dia com a melancolia de seus últimos. Arrastando pelos anos não só a tristeza, como um carrinho com um tubo de oxigênio. Green aposta então em uma história sensível, muitas vezes bem humorada, sobe uma doença pesada e acerta na mosca.

E mesmo que a simpatia do leitor/espectador esteja nela, na personagem Hazel Grace (vivida por Shailene Woodley, em um momento muito mais interessante do que no desastroso Divergente), o ás na manga de Green (e consequentemente do filme) é o jovem Augustus Waters (Alsel Elgort, que também esteve em Divergente, mas você deve se lembrar dele do remake de Carrie, A Estranha). ¿Gus¿ é então aquele ponto de reviravolta que empurra a história de Hazel, o galã meio estabanado e encantador, que também sofreu um câncer (no qual perdeu a perna), mas parece viver a vida intensamente e dizer cada frase exatamente no lugar onde ela deveria estar. Green sabe disso, assim como a dupla de roteiristas do filme e o diretor.

É através desse jovem que a vida de Hazel ganha um novo significado, e por mais que a enorme maioria de espectadores já tenha visto um número enorme de filmes e histórias semelhantes, A Culpa é das Estrelas mesmo assim funciona. Também por causa da simpatia automática que todos sentem pelo casal, ou pela narração da protagonista que vez por outra desconstrói os dogmas do gênero; talvez pelo tema delicado sendo encarado com menos formalidade, ou até pela estrutura acertada, que discute sonhos, amor, esperanças, decepções e despedidas, ou simplesmente por que as vezes todo mundo quer mesmo é se emocionar no cinema. Talvez por tudo isso o filme de John Boone funcione tão bem.

Mas também, talvez pelo trabalho cuidadoso do texto da dupla Scott Neustander e Michael H. Webber, que em 2009 emplacaram seus nomes na indústria ao assinarem o roteiro do simpático (500) Dias com Ela e que aqui, na maioria do tempo, fazem a mesma coisa: tratam os personagens como seres-humanos. Uma normalidade que não é comum nos filmes semelhantes, que foge do melodrama e consegue valorizar até mesmo aqueles momentos mais bobinhos e bregas em que Gus declara seu amor incondicional através de um olhar apaixonado. Até por que A Culpa é das Estrelas nem por um segundo promete algo a não ser esse filme romântico, com um (óbvio) final dramático e sensível.

A Culpa é das Estrelas

Uma opção que fica clara logo de cara, com essa narração carregada pela dor da inevitável perda, ou pelo discurso de apresentação de Augustus, sobre deixar seu legado. E talvez o mais interessante do filme seja exatamente isso, se emocionar com o arco narrativo desses dois personagens: ela conformada com o fim e aceitando o esquecimento e ele somente preocupado com o que deixará para trás. Duas linhas que se cruzam e se completam, com a segurança dela se transformando em fragilidade, precisando saber o que acontece com os personagens de seu livro preferido, como se enxergasse nele sua própria história, seu fim e como ficarão as pessoas diante dessa frase incompleta que terminará seu caminho.

De um modo ou de outro (sutil ou não), A Culpa é das Estrelas está mais é em busca dessas respostas, e nem faz muito esforço para escondê-las em camadas. Elas estão lá, expostas nesse terceiro ato que fará grande parte do cinema se debulhar em lágrimas, mas que também fará a maioria dos espectadores refletirem sobre o tamanho de cada infinito (por mais brega que isso possa parecer).

Mas talvez essa “breguice” seja o objetivo principal do filme. Esse amor entre os dois e como isso muda a vida de ambos, mesmo que encurtadas pela doença. Não um esforço para tratar o câncer com leveza e humor (como o ótimo, e imbatível no assunto, 50% o fez), mas sim para entrar naquela lista de filmes românticos e chorosos que se tornam obrigatórias para cada geração. Humilde, sem pretensões de ser um novo Love Story, mas com a sensibilidade de conseguir ser ele mesmo e daqui a um tempo ainda ser lembrado por ter alcançado seu objetivo principal: emocionar, mais até do que se tornar um simples fenômeno.


¿The Fault in Our Stars¿ (EUA, 2014), escrito por John Green (livro), Scott Neustandter e Michael H. Weber, dirigido por Josh Boone, com Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, laura Dern e Willem Dafoe


Trailer do filme A Culpa é das Estrelas

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