*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]É[/dropcap] uma moda constante os filmes com “A Garota…”. Este A Garota com a Pulseira é um filme de júri, o que já faz 90% do trabalho, pois já chama atenção automaticamente do espectador, que vai querer desde o começo até o final saber a resolução do caso (e corre o sério risco de não saber, pois este é um filme francês…). Porém, este não é um roteiro 100% preguiçoso, apesar de usar velhos temas de júri e de julgamentos que fazemos das pessoas todos os dias.
O primeiro elemento que chama a atenção é que o circo é montado de imediato, com policiais abordando a família Bataglie na praia e levando a filha mais velha em custódia, mas há um corte de dois anos, ela está com uma tornozeleira e iremos assistir ao seu julgamento, o que permite aos personagens e ao espectador acompanhar o processo de um ponto de vista mais frio e retrospectivo.
Isso dá uma certa frieza à personagem da filha, Lise, uma adolescente que parece ter sérios problemas de relacionamento. Ela faz sexo casualmente e seus pais com tendências liberais aos poucos aprendem a defender seu direito de explorar o próprio corpo sem nem imaginar que sua libertinagem pode ser um sintoma de fundo psicológico, em uma moral bem francesa e destacada da realidade de que a menina é ré de crime de homicídio e não faz a mínima questão de ganhar a simpatia de ninguém.
Haveria motivos de sobra para os pais se preocuparem. De família de classe alta com tanto o pai quanto a mãe trabalhando para sustentarem seu estilo de vida com casa na praia, seria de se esperar que antes mesmo do ocorrido Lise já não teria a atenção merecida dos pais. No entanto, este é apenas um artifício manipulador para que nós, espectadores, fiquemos na eterna dúvida se ela é ou não criminosa. Além disso, não sabemos de fato como era a família antes do ocorrido, e temos que confiar no que eles dizem sob juramento.
Outro fator que aumenta a ambiguidade da trama é não existir qualquer outro suspeito para o caso, e se você já está acostumado com filmes franceses deve saber que mesmo se no final Lise for inocentada o caso pode muito bem ficar sem uma resolução. Então não se chateie, curta o processo por si próprio, analisando de que forma o julgamento de uma adolescente libertina e antipática pode ser tema de como julgamos as pessoas de forma errada. Exceto pela parte libertina e antipática. Isso podemos ter certeza sobre Lise.
“La Fille au Bracelet” (Fra, 2019), escrito e dirigido por Stéphane Demoustier, com Melissa Guers, Roschdy Zem e Anaïs Demoustier.