Pepe (Jarkko Lahti) é um lenhador. Não sei se muito bom. É uma pessoa feliz. Ou pelo menos não-triste. Tudo muda quando ele e seus amigos perdem o emprego. Quer dizer… muda, mesmo? A História de Um Lenhador tem uma pegada tão budista que fica difícil compreender um protagonista onde a dor e o sofrimento dos demais é uma mera curiosidade.
O filme escrito e dirigido pelo finlandês Mikko Myllylahti se passa em um vilarejo em que a neve chega até os joelhos. Isolados do mundo, o significado de vida daquelas pessoas era a serralheria, talvez até o motivo de existência da própria vila. Quando a fábrica fecha toda as pessoas ficam desnorteadas. Há traição, mortes, fanatismo religioso, violência e caos. Tudo pode estar conectado com esses lenhadores desempregados, mas não necessariamente.
Este não é um filme exatamente literal. Aos poucos ele vai soltando as asinhas da metáfora. De repente aparece um peixe falante aqui, um carro pegando fogo no meio da estrada ali. Nada para assustar o espectador. Existe um fio da meada, mas a história que o filme quer contar vai além da mera historinha da vida real. A essência está sendo dita a todo momento pelos personagens: a busca pelo significado. A resposta para as três desconfortantes perguntas. De onde viemos? Para onde vamos? Esqueci a terceira.
No entanto, obcecado com a busca pela compreensão de nossas uma vez pacatas vidinhas antes da tempestade acontecer, A História de Um Lenhador fica muito preso dentro de sua própria simbologia. É como se o filme inteiro fosse essa pessoa presa em uma discussão filosófica e ela só vai conseguir sair quando tiver uma resposta. E você, caro leitor, se já se meteu em alguma discussão filosófica antes, sabe que a última coisa que você vai conseguir é uma resposta.
“Metsurin Tarina” (Fin/Hol/Din/Ale, 2022), escrito e dirigido por Mikko Myllylahti, com Jarkko Lahti, Iivo Tuuri e Hannu-Pekka Björkman.
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