Este é o segundo dia da Mostra de Tiradentes e é a vez das crianças assistirem a um desenho porque é sábado. Essa parte do evento se chama Mostrinha. Faz dois anos que o formato é apenas online e existe uma alegria estampada no rosto de todos na cidade pela volta do formato presencial. Depois de de falar em isolamento por tanto tempo o tema deste ano é “Todos Juntos”.
Antes da sessão vem o palhaço animar o Cine Tenda, que virou a sessão principal depois que a chuva veio pra ficar na cidade o dia inteiro. Para quem não conhece o evento existe uma sessão na praça ao ar livre, o Cine Praça, mas por motivos metereológicos ela não estava acontecendo com a casa cheia.
Em A Ilha dos Ilus, animação do diretor Paulo G C Miranda feito em um 2D dos mais simples, não há humanos. Este é um filme sobre como os animais já sabem o que sabem antes sequer de nascer. A explicação é óbvia e acadêmica: eles frequentam a escola.
A ideia é que antes de serem traços 2D bem simples de animais os bichinhos são traços 2D mais simples ainda de humanoides. Esses seres se chamam de Ilus, e eles não oferecem muito à imaginação, pois são toscos demais (no significado original da palavra). O motivo é explicar que todos antes de desenvolverem suas diferenças seriam iguais. Pelo menos os animais.
É decepcionante assistir a um desenho contemporâneo com ideias ultrapassadas de diversidade e sem qualquer esmero. Além da estética das cores nivelar a origem binária dos bichos, onde cores claras são bichinhos do bem e tons escuros são do mal, a dublagem não é feita por um elenco empolgado. É burocrático e infantil demais até para as crianças. A trilha sonora começa lembrando um pouco aquele fundo de jazz das animações de Snoopy, mas é apenas por alguns segundos até nos darmos conta que são meia dúzia de notas escolhidas a esmo para impor um gênero instrumental: aventura, comédia, suspense. De um modo geral a biblioteca disponível para montar as animações deste filme está desatualizada e sem talentos.
Metade das crianças foram embora antes do filme acabar. A outra metade não estava olhando para a tela. Este é o material que perde feio para Cartoon Network e animes japoneses por motivos diversos. Enquanto os desenhos da Cartoon são frenéticos e causam ataques de epilepsia nas crianças, os animes seguem uma longa tradição de capricho nos traços. Os desenhos são lindos, usando de computação ou feitos manualmente. Não dá para competir com isso. Os desenhos ocidentais estão indo de mal a pior na sua estética, e este exemplo brasileiro é apenas mais um.
“A Ilha de Ilus” (Goiás/BR, 2022), dirigido por Paulo G C Miranda.
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