À Noite Todos os Gatos São Pardos | O que é convencional?

Mostra de SP é sinônimo de filmes estranhos. E é assim mesmo. Sair da caixa e explorar o diferente não é parte apenas do trabalho de um diretor. Também é de sua equipe e do espectador. À Noite Todos os Gatos São Pardos é uma experiência em que todos sabem onde estão se metendo. Cinema é saber disso e mesmo assim continuar apontando a câmera ou olhando para a tela. Muitas vezes sem querer continuar fazendo.

Esse é daqueles filmes que brinca com ficção e metalinguagem. É sobre as filmagens desse diretor, Valentin Merz, que junto do elenco aparece tanto como personagem quanto nos créditos com o mesmo nome. O filme é sobre… sobre… ele é erótico. E demonstra como a câmera lenta, se usada com boa música italiana dos anos 70 e um pouco de imaginação animal, rende bons momentos. De videoclipe, mas ainda assim: bons. Ficamos compenetrados. É um misto de estranheza, curiosidade e exploitation. O que esse diretor quer tanto do seu elenco? Qual será o resultado final de tudo isso?

Uma morte acontece. Isso muda a cena. Mas não o tema. Policiais mantém a estranheza no ar, fazendo perguntas nunca antes feitas em um interrogatório sobre pessoas desaparecidas. Eles levam em conta os sonhos de um sujeito do elenco. Os detalhes dos sonhos são importantes para conseguir alguma pista. Nada segue a cartilha do senso comum. Todos os Gatos… parece brincar a todo momento com essa expectativa, e daí a metalinguagem, mas não é corajoso o suficiente para atravessar seus limites do razoável. Então a história, apesar de estranha, é reconhecida por nós, espectadores, como aceitável.

Quando chega o inspetor para a investigação, lá pelo meio do filme, nossa curiosidade já tinha sido aguçada até o limite. E agora é só ladeira abaixo. O experimento fracassou. Da estranheza inicial e o senso erótico e estético provocantes surge a frustração de uma história sem nenhum significado. E cinema sem significado não é um filme. Continua experimental, ou nem isso. Um filme pode não ter os pés no chão, mas uma vez com a cabeça nas nuvens, precisa estipular quais as regras desse céu.

E por isso, cinema experimental não é ruim se ele se posiciona bem além do convencional. Mas hoje em dia o que é convencional? Eu não sei mais de nada. E nem Valentin Merz e seu fiel elenco. Porém, uma coisa é certa: experimental ou não, cenas sensuais em câmera lenta continuam o máximo.


“De Noche los Gatos Son Pardos” (Sui, 2022); escrito e dirigido por Valentin Merz; com Robin Mognetti, Valentin Merz e Dogartzi Magunagoicoechea.


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Trailer do Filme – À Noite Todos Gatos São Pardos

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