Quando A Perfect Love Story começa é fácil entender o quanto o filme de estreia da cineasta Emina Kujundžić pretende olhar para dentro de si mesmo, mas com o tempo passando é difícil entender onde está esse “si mesmo”. Ou até onde está qualquer coisa. O que é bom e ruim ao mesmo tempo.
Nessa primeira cena, uma jovem cineasta (que deve ser Emina Kujundžić em uma certa metalinguagem) conversa com um produtor e sua câmera, que parece estar colocada escondida na situação. O homem não alivia para ela e conclui que o roteiro que ele teve acesso tem problemas, não se sustenta como um longa, é raso e não tem apelo comercial. Kujundžić, porém, só quer fazer um filme de amor onde sua personagem vive aquela vida.
Mais tarde seu namorado/companheiro/marido não chega muito longe dessa mesma conclusão, mas como ela está firme com a ideia de filmar aquela história, você, espectador, será obrigado a assisti-lo. O tal filme acompanha um casal em uma viagem pela Bósnia em direção a Herzegóvina. Talvez eles tenham cometido um crime, talvez não. Talvez eles sejam uma personificação da cineasta e em certos momentos os atores até trocam de lugar com ela, seja lá o que isso quer dizer. Mas não sei se importa.
O casal vai andando pela estrada em um carro minúsculo e vintage, suas conversas são interessantes, suas dúvidas têm um alto teor existencial e amoroso, mas sem um objetivo claro ou mais forte do que o de seguir em frente. Mas a cineasta tinha avisado disso lá no começo, então, azar de quem ainda está por aqui até esse momento.
Enquanto o namorado está indo comprar um veleiro para singrar pelos mares por um tempo, ela não quer, pretende ser livre e continuar vivendo a vida dela na Herzegóvina, mas os dois se amam verdadeiramente. A câmera de Kujundžić fica sempre por lá, olhando, como se não quisesse influenciar nada e nem ninguém, e muito menos se preocupando em grudar aquilo em torno de uma trama. Quando o casal discute é apenas para logo depois tudo ficar bem, como deveria ser em um mundo real.
O momento de ciúmes passa rápido. A felicidade de reencontrar os amigos é passageira. As lembranças de uma outra vida anterior e dos parentes, são rapidamente esquecidas. Talvez uma história de amor perfeita seja assim mesmo, sem solavancos artificiais ou desculpas desconexas para uma narrativa refém de seus atos e reviravoltas. A Perfect Love Story não está presa nem a seus atores principais, tudo pode ser inexplicável ou até explicável de um jeito que não seja lá tão empolgante assim.
O momento onde duas mulheres discutem a vida e a produção de um filme, mais tarde cruza com aquele próprio filme que está sendo feito por Emina Kujundžić, que é o filme que você estava vendo aquele momento. Como se realidade, ficção e uma segunda realidade dentro da ficção montassem esse cenário onde é preciso se deixar levar pelo fluxo de ideias.
Mas tudo bem, talvez a ideia não seja fazer todo esse sentido que você espera. Muito provavelmente o interessante é se deixar provocar pelas ideias da cineasta e não cair na mesmice que o produtor queria lá no começo. A Perfect Love Story não quer ser tão perfeito assim, quer apenas ser ele mesmo, e isso ele consegue.
“A Perfect Love Story where nothing goes wrong or does it..?” (Cro/BA, 2021); escrito por Danijela Dugandzic, Emina Kujundžić e Borisa Mraovic; dirigido por Emina Kujundžić; com Amina Dizdarevic, Victor Berrière, Nedim Cisic e Almir Djikoli