A Sala dos Professores | Maior do que qualquer dúvida

Se muitas vezes uma história inteira pode até se sustentar apenas através de uma dúvida, A Sala dos Professores sabe disso e vai até o fundo dessa ideia. Até não poder mais. Até fazer com o espectador seja afogado por uma angustia. Até se permitir deixar de lado as dúvidas para ficar apenas com aquilo que é real e palpável.

O filme alemão é sobre tudo isso, mas parte de um lugar simples antes de descambar (no melhor dos sentidos) para um lugar que chega a ser difícil de imaginar. Mas não uma grande surpresa ou reviravolta, apenas aquele momento onde tudo parece fugir do controle da personagem e ela resolve apenas seguir até o próximo passo.

A protagonista no caso é Carla Nowak (Leonie Benesch) uma jovem professora que, mais tarde dentro da história, se descobre também que ela é nova na própria escola, e isso é importante para entendê-la. Para compreender essa aura de esperança que ela coloca em seus alunos, mesmo diante da pressão dos seus companheiros professores diante de um suposto surto de roubos na escola. Carla é alguém que acredita em seus alunos. No futuro deles e no quanto ela pode proteger isso, doa a quem doer.

Essa vontade de proteger seus pupilos a coloca em uma situação absolutamente complexa, onde ela consegue provar a inocência dos alunos, mas desloca a discussão para um outro lugar onde ela não tem controle algum. E tudo vai piorando. Piorando…

O filme de Ilker Çatak (que ainda escreve o roteiro com Johannes Duncker) é, justamente, sobre isso, a capacidade que um acontecimento aparentemente perfeito para resolver tudo, pode se tornar uma dor de cabeça que coloca em risco, não só a profissão da professora, como também a dinâmica da escola, a relação dos alunos e até a liberdade de alguém. Culpada talvez. Ou inocente. Ou isso não importa.

A professora não consegue lidar com essa culpa e com essa responsabilidade, esteja certa ou errada. Principalmente, pois entende que isso não importa mais, ou ela encara o que está acontecendo e enfrenta suas escolhas, ou… ou nada. A Sala dos Professores não dá à sua protagonista nenhuma opção a não ser ter que lidar com tudo isso. A câmera de Çatak acompanha essa tensão, fixa e dura em alguns momentos, mas que perde o controle e vai para o ombro tremido do cinegrafista diante da tensão e da falta de fôlego.

Essa falta de ar é o lugar onde o espectador estará durante todo tempo com a professora, perto dela e tentando entender as opções que ela tem. Descobrindo com ela o quanto essas opções parecem não existir. Com cada porta que vai se abrindo, tudo vai ficando mais complicado e descontrolado. Mas sem nunca se desprender da professora e de seus valores.

Talvez essa seja a maior dor de A Sala dos Professores, entender intimamente o quanto a personagem se mantém firme diante daquilo que acredita, mesmo que isso signifique sacrificar tudo ao seu redor. O que ela acredita é em seus alunos. Até quando eles deixam de acreditar nela, sua força se mantém no mesmo lugar. Ela acredita que tudo pode cair ao seu redor, contanto que nada respingue em seus alunos. Essa é, muito provavelmente, a maior luta dela, já que vê isso acontecer e precisa lidar com isso, nesse caso, sacrificando até sua saúde para que o aluno envolvido tenham uma outra chance.

Já a dúvida de quem roubou, nessa hora, não importa mais. É só uma verdade que não isentará nada e nem ninguém, o estrago já está feito. Mesmo que a professora resolva ignorar tudo que está de fora da sala de aula para manter, não só sua sanidade, como também a segurança de seus alunos.

A Sala dos Professores não acaba sendo sobre esse lugar onde adultos tentam resolver seus problemas sem pensarem nas crianças, mas sim sobre o quanto a solução para os problemas não devia estar com eles, mas sim com quem está dentro de uma outra sala, de frente para eles. Aprendendo e não tentando disputar uma verdade qualquer.

Carla Nowak é uma professora como deveria ser. Humana e reticente diante dos medos e pressões, mas com intenções tão dignas e poderosas que fazem com que acompanhá-la durante todo filme seja tenso e sufocante, mas também seja esperançoso e inspirador. E sobre isso não há dúvidas.


“Das Lehrerzimmer” (Ale, 2023); escrito por Ilker Çatak e Johannes Duncker; dirigido por Ilker Çatak; com Leonie Benesch, Anne-Kathrin Gummich, Rafael Stachowiak, Michael Klammer, Eva Löbau, e Oskar Zickur.


Trailer do Filme – A Sala dos Professores

DEIXE UM COMENTÁRIO

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Menu