Pode parecer que A Sentinela, lançamento francês da Netflix seja um daqueles filmes de ação descartáveis que passarão rápido pelo catálogo e serão logo esquecidos. Isso é verdade, mas também não quer dizer que não valha a pena dar uma chance para essa produção competente, objetiva e eficiente.
O filme é dirigido por Julien Leclercq, cineasta que vem desde o começo dos anos 2000 enfileirando um monte de boas ideias dentro do gênero. A ideia em questão tem ampla aceitação no cinema francês: filmes de ação urbanos com personagens casca grossa e sequências empolgantes de luta, tiroteio ou perseguição.
Portanto, quem já deu de cara com esse tipo de filme falado em francês e gostou, não perca A Sentinela. O casca grossa da vez é “a casca grossa”, Klara, vivida por Olga Kurilenko. A heroína é uma soldado que volta de uma missão do Oriente Médio com transtorno de estresse pós-traumático, o que lhe rende um lugar nas fileiras de um projeto que aproveita os soldados para ficarem por ai, vagando pelas cidades francesas tentando repelir qualquer sinal de atentado terrorista.
A Sentinela não é sobre seu trauma, mas sim sobre a vingança que ela decide levar em frente depois que sua irmã é encontrada violentada e em coma. Klara então descobre um possível agressor e parte para sua vingança.
Parece algum tipo de Desejo de Matar, e um pouquinho ele é mesmo, já que a personagem sai por ai batendo em capangas e chegando cada vez mais perto do verdadeiro vilão. Sim, ela está quebrada pela vida e decide seguir como um trator por cima de todos, mas nunca se permite ser apenas um “uma coisa pela outra”. Klara é uma personagem forte, que não está tomada por nenhuma raiva cega, mas sim alguém que vai direto ao ponto por opção e serenidade.
Seria fácil tirar os remédios da personagem ou diminuí-la diante do vilão, mas a ideia aqui é outra. Diante da incapacidade dos responsáveis por justiça lidarem com esse problema, ela mesmo vai resolver isso. Uma anti-heroína no sentido mais divertido da palavra.
Kurylenko é sempre uma atriz interessante e comprometida com suas personagens, e isso acumula ainda mais interesse ao filme. De Bond Girl à sutileza em Um Dia Perfeito, seus trabalhos sempre se destacam onde estiverem. Em A Sentinela, Kurylenko tem a oportunidade de ir da fragilidade do trauma, até a ação fria e violenta. Nessa segunda parte ainda dá um espetáculo físico digno das melhores “heroinas de ação”.
Junte isso à direção clara e objetiva do experiente Leclercq e o espectador terá em mãos algumas ótimas cenas de ação empolgantes, bem coreografadas, claras e, quando necessário, divertidamente violentas.
A Sentinela é até um filme de ação descartável, mas isso não quer dizer que os amantes de um bom filme de ação possam perde-lo. Não percam.
“Sentinelle” (Fra, 2021); escrito por Julien Leclercq e Matthieu Serveau; dirigido por Julien Leclercq; com Olga Kurylenko, Marilyn Lima, Michel Nabikiff, Andrey Gorlenko e Carole Weyers