Se fosse possível resumir a carreira do diretor M. Night Shyamalan em poucas palavras, seria algo como “um gênio que não teve capacidade de lidar com toda essa responsabilidade”. Seu mais novo filme, A Visita mostra exatamente isso, que aquele gênio do começo de carreira não passa nem perto desse seu atual momento.
Não existe um só fiapo do Shyamalan de Sexto Sentido e Corpo Fechado em A Visita. E não existe nem o esforço em manter o interesse em seu nome como em A Vila, A Dama da Água e Sinais. Pior ainda, esse novo suspense não consegue nem ter o dinheiro de O Último Mestre do Ar, Depois da Terra e Fim dos Tempos para compensar o desastre, o que resulta em um produto muito (mas muito mesmo!) aquém até dos piores momentos do diretor.
Um filme pequeno e meio descompromissado até, sobre um casal de irmãos de 15 e 13 anos que vão passar uma semana na casa dos avós maternos com os quais a mãe não tem contato desde antes deles nascerem. O problema é que A Visita é um filme de suspense que de vez em quando conversa com o terror, então em pouco tempo os dois jovens começam a desconfiar que existe algo de peculiar com os avós.
Um roteiro escrito pelo próprio Shyamalan que se desenrola de modo preguiçoso, repetitivo e refém de alguma reviravolta final, que realmente surge, mas não empolga ninguém, ainda que seja realmente inesperada. Mas mais uma vez (menos que em Depois da Terra que tem a reviravolta logo no título,), depois disso, o filme se estende demais sem um climax imediato e não mantêm o espectador empolgado o suficiente até o final.
Pior ainda, pouca empolgação que passa por uma falta de saber o que fazer com todos detalhes que vai construindo durante o filme. (e aqui alguns poucos spoilers) É impensável achar que o casal de irmãos iria permanecer normalmente na casa depois de descobrir que sua avó corre nua vomitando pela casa e arranhando as portas durante a noite e que seu avô guarda suas fraldas sujas em uma espécie de mini-celeiro.
Por outro lado, aquele Shyamalan que entortou a cabeça de todos seus espectadores com suas soluções visuais de seus primeiros filmes (cena inicial de Corpo Fechado até hoje é algo impressionante, preciso e lindo), aqui está relegado a diretorzinho qualquer em começo de carreira. Um daqueles que tem uma ideia de fazer um filme com uma câmera subjetiva, inventa uma desculpa qualquer para um personagem estar com o “rec” ligado e deixa a ação acontecer sem nenhuma preocupação estética ou artística.
Uma opção que finca os dois pés no chão demais e, ainda por cima, não permite que qualquer tipo de solução que dialogue com o extraordinário ou com o sobrenatural nem passe pela cabeça do espectador, o que tira boa parte da graça de qualquer possibilidade que o filme venha a ter sem ser uma monótona, (que talvez você nem imagine, mas nem por isso funciona).
E A Visita não sabe nem terminar, já que depois de tudo ainda volta para lembrar a todos a razão da mãe ter saído de casa, mas até lá isso só serve para lembrar a todos que ninguém mais estava interessado nisso… e nem no filme… e nem na carreira do Shyamalan.
“The Visit” (EUA, 2015), escrito e dirigido por M. Night Shyamalan, com Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie e Kathryn Hahn.