Acompanhante Perfeita | Você vai ser surpreender

Se nem a divulgação do filme fez muita questão de esconder a trama de Acompanhante Perfeita, acho que estamos livres para discutir todos seus spoilers, já que, só assim será possível entender todas intenções do diretor e roteirista Drew Hancock.

Entretanto, curiosamente, se você entrar no cinema sem saber nada a respeito do filme, com certeza terá uma grata e divertida surpresa. Assim como valorizará o trabalho do diretor de esconder esses detalhes sem enrolar. O resultado é um filme que conta com a inteligência e a atenção do espectador e premia isso com uma reviravolta divertida e que abre o espaço para uma mudança na trama que leva o filme para um outro lugar. Um lugar muito mais maluco e onde Hancock consegue deixar suas mensagens.

Mas tudo isso misturado à ação e à trama demora a aparecer e absolutamente importante para o espectador entrar na ideia. Ao não levantar essas bandeiras em um primeiro momento é possível brincar com a ideia. Quando também não faz isso em um segundo lugar da trama, deixa que ela corra com esse “filme surpresa” que surge. Só então depois de tudo isso que Acompanhante Perfeita levanta a bandeira que está sendo içada desde lá o começo com detalhes.

Falando em detalhes, é divertido pescá-los no primeiro momento antes da primeira reviravolta. Essas dicas que rodeiam o relacionamento de Iris (Sophie Thatcher, da série Yellowjackets) e Josh (Jack Quaid, de The Boys). Ambos se conhecem em um supermercado e esse apaixonam, mas a narração dela comentando o momento entrega uma ideia bem diferente: “Dois momentos de felicidade, um quando encontrei com ele pela primeira vez e outro quando o matei”.

Com o espectador interessado por completar o que está dentro desses dois momentos o que vem a seguir é a viagem do casal para a casa do amante de uma amiga dele. Mas o que acontece depois é uma reviravolta que brinca com tudo aquilo que você viu até agora. Portanto, continuar aqui lendo essas próximas linhas poderá ser considerado um spoiler, por mais que ele esteja na sinopse oficial do filme.

Ainda assim, seria um deleite pro espectador chegar a esse filme sem saber nada. Afinal você descobre que Iris na verdade é uma robô acompanhante, ou como Josh destaca: “Um robô de suporte emocional… que fode”. E esse é o clima desse segundo momento, uma mistura de bom humor e ótimos diálogos com uma trama meio de terror e perseguição, já que Iris acaba assassinando o dono da casa e sofre com a ameaça de ser desligada por seu dono.

Sim, “sofre” e ele seria seu “dono”, já que ela descobre ser uma robô e começa uma luta existencial junto com sua batalha para sobreviver e se libertar de seu agora ex-namorado. É lógico que o assassinato não é tão simples e logo surge uma outra trama por trás disso. Em pouco tempo Acompanhante Perfeita se transforma em outra coisa e Iria se torna uma personagem incrível, perdida nesse lugar onde ela precisa entender o que é e ainda sobreviver a isso tudo.

Sophie Tatcher não só da conta disso, como ainda se destaque e consegue construir essa personagem que tem algo de robótico, mas que, aos poucos, vai ganhando uma humanidade meio esquisita ainda. E nas reviravoltas de seu arco, ela pode explorar todos os lados de sua Iris. E tudo fica ainda melhor quando ela passa a confrontar seu algoz.

Jack Quaid surge até com um pouco de sua construção no Pânico 5 de 2022, de um cara que parece bonzinho, mas no final se torna somente o reflexo desfocado de uma parcela da sociedade que não consegue (ou não devia) conviver em sociedade. E Acompanhante Perfeita é sobre isso, mas com esse futuro com robôs de “background” para discutir esse problema real e atual.

Josh acha que não consegue ter um relacionamento com nenhuma mulher, pois não é respeitado, “merecer mais respeito”, ou simplesmente, porque “o universo está contra ele”. Mas seu relacionamento com a “mulher de sua vida” é apenas baseado em sexo e só funciona, pois ela é programada para ser muito menos inteligente que ele e obedecer tudo que ele mandar ela fazer. Quando isso não funciona, ele “hackeia” ela para que isso aconteça. Mas ao perceber que vai perdê-la e recebe um “não é você, sou eu” pelo telefone, passa a transformar o relacionamento em uma perseguição violento com direito a tortura emocional e física.

Não importa o nome do grupo que Josh se encaixaria e que junta homens para discutirem sua superioridade e promovem a ideia de o feminino e todas feminilidades sejam vilões de seus protagonismos. O que importa é que todos tem uma coisa em comum, só funcionam dentro da mente deturpada dessas pessoas. O mundo que eles enxergam é apenas a construção maluco de suas faltas de capacidades de respeitarem o próximo, no caso, as próximas. Acompanhante Perfeita tem algo a dizer sobre isso por meio dessa alegoria e consegue fazê-lo.

É impossível acaba de ver o filme sem pensar no quanto a história tem uma razão de existir e discutir esse problema através dessa trama. E fazer isso com uma experiência inteligente, bem-humorada, violenta, tensa quando precisa ser e existencial quando quer completar tudo isso, é para poucos, com Acompanhante Perfeita conseguindo alcançar isso em todos os quesitos.


“Companion” (EUA, 2025); escrito e dirigido por Drew Hancock; com Sophie Thatcher, Jack Quaid, Lukas Gage, Megan Suri, Harvey Guillén e Rupert Friend


Trailer – Acompanhante Perfeita

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