Além da Ilusão é uma viagem biográfica longa, inútil e de um lirismo que não se justifica ao longo da projeção. Se trata da burocracia dos filmes baseados em eventos reais que não estabelecem uma trama, mas apenas descrevem acontecimentos. Seus personagens não tão rasos e esquecíveis que nem a atuação competente do elenco nos salva do marasmo. E mesmo que fôssemos apreciar a obra pela sua “beleza inerente do cinema”, ele comprova que para tudo há um limite.
Se trata da história de duas irmãs médiuns que encantaram Andre Korben, o líder (imigrante) de uma produtora de filmes francesa em uma época onde os americanos já estavam dominando o mercado e o xenofobismo pré-Segunda Guerra já assombrava a Europa. Com o pretexto de conseguir filmar a força misteriosa que interage com ele através da irmã mais nova – e que parece revelar um traço até masoquista de Korben – ele convence os acionistas a gastar uma soma imensa de dinheiro em meio a uma crise econômica, além de adotar as duas irmãs a ponto de trazê-las para sua própria casa, a partir de onde passam a viver histórias diferentes e separadas.
Laura (Natalie Portman) durante as filmagens iniciais das sessões espíritas acaba virando atriz com seu talento em interpretar. Nada mais natural, já que sabemos que a única com o verdadeiro dom sobrenatural é sua irmã mais nova, Kate (Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp), que passa a realizar sessões privadas com o presidente que parecem o satisfazer em um nível sexual. Como Kate é menor de idade já temos aqui uma situação extremamente delicada do filme, que covardemente não parece se aprofundar.
E mesmo que se aprofundasse, os objetivos desses personagens nunca parecem muito claros, e a sucessão de eventos apenas lembra um diário sem muita cadência. É interessante “per se” acompanhar as pesquisas em busca de evidência científica da existência de fantasmas, além das pequenas sutilezas que aos poucos revelam como um jogo de trapaças estava sendo configurado para jogar Korben para escanteio. Por outro lado, a personagem de Natalie Portman parece completamente descartável, embora seja vista como peça-chave na trama, onde seu encontro no começo do filme com uma pessoa em um trem desperta memórias de um passado mais brilhante com sua irmã.
Mas, convenhamos, nada parece particularmente brilhante neste filme, exceto as estrelas no céu, que são mostradas constantemente como uma metáfora boba e esquecível.
“Planetarium” (Fra/Bel, 2016), escrito por Rebecca Zlotowski, Robin Campillo, dirigido por Rebecca Zlotowski, com Natalie Portman, Lily-Rose Depp, Emmanuel Salinger, Amira Casar, Pierre Salvadori