Se a pergunta que fica no ar toda vez que uma franquia clássica é remodela, revista, refeita, repensada, repaginada, continuada ou reimaginada é: qual a razão? Algumas vezes a resposta é “porque sim” e isso é mais que suficiente. Alien: Romulus, diferentemente de algumas outras sequências do clássico de Ridley Scott, merece existir. Ou melhor, os fãs merecem ela.
Isso porque, depois de tanto se distanciar do original, finalmente um filme volta a entender o que funcionava tão bem no original. É bom ressaltar que não é a primeira vez que se atinge esse objetivo, já que o jogo de videogames Alien: Isolation já conseguia alcançar esse clima e até serviu de inspiração para o diretor uruguaio Fede Alvarez se tornar herdeiro atual da franquia.
Alvarez vem do roteiro do remake/continuação mais recente de O Massacre da Serra Elétrica (aquele para o Netflix), mas antes disso assinou os tensos O Homem nas Trevas (os dois), e ainda teve a responsabilidade de estrear em Hollywood com o remake sangrento do clássico A Morte do Demônio. Em resumo, Alvarez sabe como colocar jovens em perigo apenas porque eles estavam no lugar errado e na hora errada.
A história de Alien: Romulus fica então na mão de Alvarez e de seu parceiro Rodo Sayagues, que escreveu todos seus filmes com ele e agora leva a franquia Alien para um lugar mais simples do que qualquer continuação. Um grupo de jovens que quer fugir de um “planeta mineiradora” e descobre que eles são conseguir fazer isso se invadirem uma estação que está à deriva em órbita do planeta. Para o azar deles, essa é a mesma estação que recebeu os escombros “perdidos” de uma certa nave cargueiro Nostromo.
Com uma sinopse dessas é claro que o resto não foge tanto do óbvio, mas acerta na diversão. Pela primeira vez em toda franquia Alien, o projeto nasce e é comandando por um “diretor de terror”, o resultado é um olhar muito mais dentro do gênero em certos detalhes que muitos deixaram de lado com o passar das continuações. Uma cacetada de “facehuggers” nunca foi enxergada como uma ameaça tão clara e tensa. Assim como a câmera dinâmica e ágil comum ao gênero, se mantém presente em cada susto, perseguição e embate. Nem tudo funciona, mas o que funciona, funciona bem.
Até porque, Alien: Romulus, mesmo com todas intenções, ainda é um slasher com tudo que ele se permite ser. Quase como um passeio em uma Casa Mal Assombrada de um parque de diversões, onde a cada esquina o assassino poderá surgir para te matar, ou, pelo menos, para te perseguir. Alvarez já fazia isso muito bem em sua carreira e agora só levou isso para o espaço.
É lógico também que o roteiro não tem saídas muito complexas ou inspiradoras, mas a vontade de seguir em frente e fazer com que a protagonista e seu irmão tenham motivações suficientes para se manterem vivos e ativos é o suficiente. Cailee Spaeny (de Guerra Civil) não é uma heroína de ação e nem tenta ser algum tipo de “pseudo Ripley”, é apenas uma jovem que precisa sobreviver diante daquela situação. Já seu irmão, David Johnson, tem um arco um pouco mais inspirado, principalmente por carregar grande parte de uma mitologia que aparece na superfície da história. O bom trabalho do ator ainda permite que suas decisões remetam a diferentes personagens da franquia, ao mesmo tempo que cria algo novo quando seu personagem pede tal decisão.
Falando em “algo novo”, outro ponto importante para Alien: Romulus funcionar é seu visual. Não só pela boa relação com as novas tecnologias, como também por todo capricho no uso de efeitos práticos, o que sempre dá uma sensação de realidade e presença ainda mais interessante para as criaturas.
Em resumo é isso, seis filmes depois do primeiro Alien, a ideia continua relevante quando o objetivo e estar próximo das intenções do original, aquela onde o espectador é lembrado que no espaço ninguém ouvirá os gritos dos personagens. E é isso que os fãs querem e terão com Alien: Romulus!
“Alien: Romulus” (EUA, 2024); escrito por Fede Alvarez e Rodo Sayagues; dirigido por Fede Alvarez; com Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu.
Trailer do Filme – Alien: Romulus