*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]A[/dropcap]mazing Grace é o resultado das horas gravadas de duas noites em uma igreja em Los Angeles pela Warner Brothers. Quem eles gravam? Ninguém menos que Aretha Franklin, uma das maiores cantoras que já pisou na Terra. De volta às origens, ela canta Gospel não como um anjo, mas como uma força da natureza vinda para o bem. Ela representa tudo o que podemos esperar de uma cantora completa.
Não sei se Deus existe, mas sei que se ele existisse sua porta-voz nesse mundo seria Aretha Franklin. Com ela cantando qualquer um se convence dos milagres da natureza. Aqui ela canta músicas que exigem tons altos e baixos, e Franklin dá conta de todas elas, emocionada ou não. Não são músicas famosas para quem não é evangélico, talvez nem sejam tão boas assim. E ainda assim Aretha transforma em um dos melhores álbuns que já se ouviu.
Gravado em 1972, nunca foi finalizado por problemas técnicos. Até agora, e está em exibição na Mostra de São Paulo. Portanto, arrume uma sala com bom sistema de som, pois é o som que deve suportar todos os tons que essa cantora é capaz.
É um filme (ou um show, se quiser chamar assim) emocionante? Pode ter certeza que alguns momentos desafiam nossa razão, mas além disso ele é tecnicamente impressionante. Embalado nisso temos o lado religioso, mas olhe para as pessoas do coral indignadas com tamanha a qualidade na voz de Aretha, e a forma com que o Reverendo, que faz uma ótima apresentação, fica ao lado dela. Não há demonstração tão genuína. Qualquer um que estivesse presente em qualquer uma daquelas duas noites estaria reagindo da mesma forma.
A potência da voz de Aretha é um presente do universo, mas sua técnica e sua emoção são o toque final que tornou possível este fenômeno. A cantora que havia estourado todos os recordes musicais em sua época volta às origens. E nunca é demais ouvi-la mais uma vez. Este filme comprova que músicas são detalhes para cantores de sucesso.
“Amazing Grace” (EUA, 2018), dirigido por Alan Elliott e Sydney Pollack, com Aretha Franklin, James Cleveland e Southern California Community Choir.