Mesmo não sendo um exemplo de qualidade em termos de atuação, hoje, poucas estrelas de Hollywood podem se dar ao luxo de terem uma carreira tão sólida por trás das câmeras como Ben Affleck. Com um Oscar pelo melhor roteiro de Gênio Indomável e dois Argo Poster Filmefilmes surpreendentemente bem feitos (Medo da Verdade e Atração Perigosa), seu novo filme Argo, é o resultado direto dessa maturidade.

Simples, tenso e, sem dúvida nenhuma, um dos filmes mais empolgantes do ano, Argo é o reflexo de um diretor que apenas sabe o que está fazendo. Que não desperdiça planos para construir essa história e, muito menos, é refém de qualquer tipo de obrigação estética. Affleck parece estar ali apenas para contar uma história e, realmente, nada fica entre ele esse objetivo.

É lógico que a trama, por si só, ajuda qualquer filme, mas, tanto o cuidado de Affleck, como o roteiro inspirado de Chris Terrio, baseado em uma situação real descrita em um artigo de Joshuah Bearman para a revista Wired, dão a Argo um ritmo que conquistará qualquer espectador.

Para Terrio sobra a função de contar a história desses seis funcionários da Embaixada Americana no Irã que, durante a crise de 1979 entre os dois países, em que o Aiatolá Khomeini manteve em cativeiro um grupo de soldados e funcionários dos Estados Unidos por mais de 400 dias, conseguiram escapar do momento em que a Embaixada foi invadida e só saíram vivos do país graças a uma ousada, e criativa, operação da CIA.

Nela, o agente Tony Mendez (o próprio Affleck, funcionando bem como agente secreto frio… e sem emoção), especialista e extrações de prisioneiros, tem a ideia de sair com os seis fugitivos disfarçados como uma equipe de filmagem de Hollywood em busca de locações para um milionário filme de ficção-científica: Argo. Para isso então, Mendez precisa, literalmente, criar um filme, o que quer dizer, de um escritório de produção até propaganda em revistas especializadas.

O agente recebe a ajuda de um maquiador ganhador do Oscar (por O Planeta dos Macacos), John Chambers (vivido por um sempre simpático John Goodman) e de um produtor, Lester Siegel (Alan Arkin), para criar todo esse embuste que garantirá o sucesso de seu plano. Siegel não existiu, mas a grande maioria do resto da história é verdade, e é impossível já não se divertir desde esse detalhe.

Argo Filme

Mendez e seus companheiros (tanto no filme como fora dele) salvam esses seis funcionários de uma morte certa nas mãos do Irã com uma única arma: o cinema. Affleck percebe isso logo de cara, começa seu filme contando a história recente do país por meio de storyboards (que no original eram desenhados por Jack Kirby, parceiro de Stan Lee, e tem sua relevância perto da conclusão, “rimando” com esse início), assim como e em certo momento, tratando um comunicado ameaçador do Irã com o mesmo tom de farsa de uma leitura de roteiro do filme que só serve de subterfúgio.

Como é citado em certo momento do filme por Chambers, Karl Marx disse que “toda história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” e Affleck se sente confortável com todo esse material em mãos. E no alto de sua técnica, faz sua câmera sair de seu protagonista, enquanto observa a leitura do roteiro por um bando de artistas fantasiados, e acompanhar o garçom até uma TV sintonizada do discurso de uma mulher iraniana acusando os EUA, enquanto, na verdade, levam seus prisioneiros para uma execução que segue os moldes do filme de Mendez. E para conseguir caminhar livremente por entre essas linhas narrativas, Affleck ganha o reforço de Willian Goldenberg.

Talvez um dos pontos mais fortes do filme, Goldenberg, que já trabalho com o diretor em Medo da verdade, mas é muito mais conhecido pelas montagens dos filmes de Michael Mann (incluindo o genial trabalho em Fogo contra Fogo) é responsável direto pelo ritmo frenético de Argo, principalmente pela competência e precisão de suas montagens paralelas, que possibilitam um final tenso e que afundará todos os espectadores na poltrona. Mesmo com grande parte deles tendo certeza do que irá acontecer.

Argo ainda tem na manga uma direção de arte impressionante que recria a época de modo tremendamente preciso e, desde já, deve competir em todas as premiações da categoria. Isso, com uma segurança tão grande que exibe orgulhosa a comparação do resultado nas telas com as imagens reais enquanto os créditos finais sobem e o público no cinema, mais uma vez, é atingido por um choque de realidade que só faz o filme crescer mais ainda.

Argo Filme

O primeiro choque vem do “baseado em fatos reais” do começo, que provoca uma relação mais próxima ainda entre a situação e o espectador, já que não existe a mínima possibilidade de não torcer desesperadoramente para esses seis funcionários que conseguem fugir da invasão e viram hóspedes do embaixador canadense. Uma combinação que os transforma nas vítimas perfeitas. Além de estarem abrigado na “casa” dos simpáticos vizinhos do norte dos Estados Unidos, pois “todos gostam de canadenses”, como um dos personagens lembra em certo momento (e que na verdade tiveram uma participação muito maior que a mostrada no filme, mas isso são problemas da realidade), Argo ainda conta com os “terríveis iranianos”.

Affleck não economiza, começa o filme com um iraniano queimando uma bandeira dos Estados Unidos, contrapões a multidão do lado de fora da embaixada (com uma câmera mexida) contra o vazio (estável) de dentro dela, quase como uma invasão zumbi de filme de terror de um lado e um monte de vítimas com olhares assustados do outro. Independente de política ou cenário, aquelas pessoas são vítimas completamente inocentes, uma identificação imediata que carrega todos pelo resto da história. Melhor ainda, liderados por um herói anônimo.

E Hollywood adora heróis anônimos, com toda sua coragem e altruísmo. Um tipo trágico que conquista qualquer espectador, que se emociona com o abraço da esposa no final do filme e o carinho do filho, mesmo tendo feito algo que o tornaria herói de uma nação e que ninguém vai ficar sabendo.

Mas sobre tudo isso, Argo é um filme sobre uma “melhor má ideia” que dá certo, salva a vida de seis inocentes e que pode até ter mudado os rumos da história. E tudo isso graças a um filme de ficção científica que não teria possibilidade nenhuma de ser um sucesso caso se tornasse verdade.


idem(EUA, 2012) escrito por Chris Terrio e Josguah Bearman (artigo), dirigido por Ben Affleck, com Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman, Tate Donovan, Clea DuVall, Scoot McNairy, Rory Cochrane, Christopher Denham e Kerry Bishé.


Trailer

3 Comentários. Deixe novo

  • Alexandre Figueiredo
    26/05/2017 20:03

    Grande filme. Tenso do início ao fim.

  • Pia Torres
    31/10/2014 16:23

    Isso causou interesse no assunto discutido, mas para ser honesto, eu sinto um pouco elitista, porque nem todo mundo entende, Argo é um filme narrado de forma inteligente e sem dúvida é a fita que se consolidou como Ben Affleck, é a sua melhor produção até à data, de um ponto de vista cinematográfico foi muito influenciado por filmes americanos dos anos 70, foi uma época de ouro para Hollywood. no entanto, parece ser uma proposta superestimada carece épico, suspense e personagens de interesse para expandir sua empatia. Como para o próprio trilha sonora que eu gostei porque podemos deliciar com músicas de Rolling Stones, Van Halen e Led Zeppelin.

  • Baixar o Filme – Argo (Nota do editor – é lógico que o link foi “censurado”!)

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