As Nadadoras (2022) | Crítica do Filme

As Nadadoras | Além de só mais uma história

Todo mundo deve se lembrar da famosa equipe de refugiados que estreou na Olimpíada do Rio de Janeiro, com cada um daqueles atletas levando para a maior competição do esporte mundial não só suas qualidades atléticas, como um pouco de suas histórias. As Nadadoras é apenas a história de uma daquelas pessoas.

Na verdade, a história dela, a nadadora Yusra Mardini (Nathalie Issa), e sua irmã Sara (Manal Issa).Uma história que começa na Síria em guerra e acaba no Rio de Janeiro, mas com uma jornada que preenche o filme de Sally El Hosaini com uma poderosa história de superação, sonho e esperança. Tudo bem, parece clichê, mas todo lugar comum, quando bem feito, faz todos se lembraram da razão de ele ser tão repetido.

A história das irmãs talvez não seja única, afinal, um número incontável de pessoas foge de seus países em guerra todos os dias para tentar encontrar qualquer tipo de paz na Europa. A maioria talvez nem sobrevive, as duas conseguiram e isso agora poderá ser celebrado nessa produção cara da Netflix. Não que o filme queira só celebrar isso, talvez ele esteja mais interessado em entender.

O roteiro da diretora em parceria com o experiente Jack Thorne (mesmo de Extraordinário, Radicoactive, O Jardim Secreto e os dois Enola Holmes) sabe exatamente de tudo isso. O objetivo da trama é tanto valorizar um certo acontecimento que sai da mesmice em termos de fuga pelo mar, mas nunca e refém disso. Com calma e sensibilidade As Nadadoras acompanha as duas irmãs em toda essa viagem que não é de revelações ou outras preguiças narrativas, mas de sobrevivência mesmo. Um filme humano e emocionante não por uma ou outra reviravolta, mas sim pela sinceridade com que enxerga a história inteira.

As Nadadoras | Além de só mais uma história

De um lado uma história simples e linear que acompanha as duas irmãs cruzando um mundo de perigos e incertezas para chegar na Alemanha. Isso em um roteiro com ótimos diálogos e que acerta em entender as motivações das cenas e dos personagens. Em nenhum momento As Nadadoras parece carregado por algum tipo de intenção melodramática pobre. São sempre pessoas em situações extremas e andando no limite da existência de um mundo que não está muito preocupado com elas.

Do outro lado, a direção de Hosaini é madura e segura. Não descambando nunca para qualquer tipo de show pirotécnico de imagens que não fazem sentido. A beleza com que enxerga Yusra na água permite com que isso se torne uma série de possibilidades que beiram o lírico ao se permitir embarcar na imaginação da protagonista, ao mesmo tempo que desenha momentos lindos como, logo no começo, envolvendo uma bomba.

Melhor ainda, sua câmera sabe o que fazer e só se permite sonhar junta com sua dupla de protagonistas. A realidade é crua, dura e nunca foge de seu olhar. Quase uma questão de honra de acompanha-las sem nunca interferir na ação ou valorizar algum momento que deveria ser apenas de observação. O resultado disso é um filme que emociona por saber contar sua história como ela deve ser contada, não do jeito que o ego de algum diretor mais preocupado com sua assinatura poderia querer. Hosaini some por trás de suas intenções estéticas e comanda o filme com uma suavidade repleta de personalidade.

O poder desses momentos é tão verdadeiro e emocionante que faz com que o resto do filme fique manco. É impossível se manter firme em termos de motivação depois de tanto sofrimento e dor, chegar a uma Olímpiada parece pouco diante do que o espectador acabou de experimentar e isso derruba demais esse “terceiro momento” de As Nadadoras. Mesmo com o esforço do roteiro para enfiar goela abaixo algumas frases prontas para empurrar Yusra em direção ao seu destino carioca, é fácil estar com ela e sentir uma espécie de falta de vontade de saber o que vem depois daquilo.

O esforço do filme para recriar e colocar o espectador dentro do evento esportivo do Rio de Janeiro é imenso e funciona. Hosaini tenta ainda ligar a tensão daqueles 100 metros de piscina com a jornada das duas através de uma fusão de intenções visuais, mas nada consegue salvar esse último momento de As Nadadoras.

Consciente disso, o próprio filme acaba sem nem ao menos falar mais da Olimpíada, mas corre de volta para a vida real das irmãs Mardini, ambas hoje fazendo pelos refugiados um pouco mais do que talvez não lhes tenha existido. Possivelmente para que mais histórias como as delas possam ser contadas e não esquecidas pelo mar e pelos botes superlotados. Talvez para que mais refugiados possam entrar em outras Olimpíadas.  


“The Swimmers” (UK, EUA); escrito por Sally El Hosaini e Jack Thorne; dirigido por Sally El Hoasini; com Matthias Schweighofer, Manal Issa, Nathalia Issa, Ali Suliman, Nahel Tzegai, Ahmed Malek, Kinda Alloush e James Krishna Floyd.


Trailer do Filme – As Nadadoras

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