De acordo com As Veias do Mundo, um quinto da Mongólia é hoje delimitado para a exploração de empresa mineradoras. O final do filme vai ainda mais longe nesse desastre ecológico, mais de 300 rios e quase 400 lagos, além de 760 nascentes, ou secaram, ou estão envenenadas. A maior atividade mineradora do mundo está lá, e por mais que o filme de Byambasuren Davaa não parece ser sobre isso, ele é.
A câmera de Davaa surge fixa em um cenário lindo, um horizonte que corta o céu em uma planície, apenas um carro deixa um rastro de poeira para trás. Tudo parece silencioso e vazio e o corte para um outro cenário mantém a mesma sensação, até que outra mudança deixa surgir algumas maquinas de mineração. Mas isso fica para trás, As Veias do Mundo ainda não é sobre isso.
Nesse primeiro momento, o filme é sobre Amra (Bat-Ireedui Batmunkh) um garotinho mongol com um “pequeno grande” sonho: conseguir ser selecionado pelo Mongólia Got Talent. Quem dirigia o carro para deixa-lo na escola era seu pai, que leva a vida tentando vender os queijos produzidos pela família.
Davaa acompanha essa família humilda de uma região que precisa lidar com essa “invasão” de mineração, o pai lidera um grupo de moradores que enfrentam os abusos dessas empresas, mas uma compensação monetária para os “vizinhos” pode colocar todo seu plano em perigo. Mas também As Veias do Mundo não é só sobre isso.
O filme conta uma história sobre tradições e legados, acompanha a vida do filho após um acidente que mata o pai. O garoto fica então entre seu sonho, as necessidades da família e a possibilidade de manter a propriedade da família, mesmo que isso signifique esconder da mãe um trabalho não muito seguro e “aceitável”. Mas não se preocupe, As Veias do Mundo é um сайхан кино мэдэр (“saikhan kino meder”) ou como os gringos gostam de falar, um “feel good movie”, mesmo com todas dificuldades.
A câmera de Davaa é certeira, valoriza demais os cenários naturais da região e olha com carinho para o trabalho sensível e sincero do garoto protagonista. Os conflitos nunca pesam na leveza da trama, as soluções são absolutamente fáceis e, no final das contas, tudo dá certo. Tudo isso com uma trilha sonora elegante da dupla John Gurtler e Jan Miserre.
Enfim, tudo no lugar para contar uma história sobre esperança e que também serve para mostrar, ainda que seja apenas em um texto final, o quanto a Mongólia está sofrendo nas mãos dessa exploração de minerações. Portanto, aproveite os diversos lados desse filme cheio de possibilidades para você se emocionar.
“Die Adern der Welt” (Ale/Mon, 2020); escrito por Byambasuren Davaa e Jiska Rockels; dirigido por Byambasuren Davaa, com Bat-Ireedui Batmunkh
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