É difícil chegar até o final de Ascensão do Cisne Negro sem pensar no quanto aquela história conseguiu demorar mais de duas horas para não chegar em lugar nenhum. Principalmente para quem já viu um punhado de outros filmes de ação por aí.
Tudo na produção da Netflix é burocrático, sem emoção, mal dirigido e com uma vontade tão grande de emplacar esse filme como o começo de uma franquia, que esquece de ser interessante por ele mesmo.
A trama é baseada na série de livros de Andy McNab, que tem uma lista enorme de obras, mas todas com um jeitão todo próprio de descartável. Não que isso impeça o autor de encontrar grandes tramas, mas com certeza não faz dele alguém muito preocupado com essa qualidade toda. Como se objetivo final dele fosse entreter seu leitor por algumas horas enquanto, por exemplo, senta em um trem e sai da Inglaterra e chega na França.
E por mais que o filme demore demais para chegar nesse mesmo trem, é ele que está no foco da ação quando um agente das forças especiais britânicas, Tom Buckingham (Sam Heughan), embarca nele em busca de um final de semana com a namorada médica, Sophie Hart (Hannah John-Kamen), em Paris, onde pedirá ela em casamento.
Para o azar do tal Cisne Negro do título, liderado pela mercenária Grace Lewis (Ruby Rose), que tinham a intenção de sequestrar o trem, Tom está lá para mandar um Duro de Matar em todo mundo.
Mas isso demora a acontecer. Primeiro o espectador vai ter que conhecer o Cisne Negro. Depois descobrir que eles estão no meio de uma trama política envolvendo o Primeiro Ministro e ainda um” soldado confiável” (Andy Serkis) que está por dentro de toda maracutaia que ainda envolve uma empresa de gás natural e os mercenários do Cisne Negro. Já o Tom Buckingham, ele acabou matando uma pessoa enquanto as Forças Especiais tentavam capturar os líderes do Cisne Negro, o que o leva a ser punido com férias. Convenientemente.
Resumindo, trama demais no roteiro de Laurence Malkin para simplesmente cair na velha história de um herói de ação à paisana que está no lugar errado e na hora errada, para o azar dos bandidos.
Quando isso começa, tudo se torna ainda mais repetitivo e sem novidades. O espaço geográfico onde o filme acontece é espremido demais, então ficar vendo aquele cara ir de um lugar para o outro em um túnel cheio de terroristas beira o absurdo. Mas mesmo assim ele o faz e o espectador não irá se divertir em nenhum momento. A direção de Magnus Martens é pesada, sem valorizar os momentos de ação, lutas e tiros, tudo parece comum demais e saído de algum episódio qualquer de alguma série de TV sem audiência.
O filme só demora tanto para acabar, pois ainda tem uma tentativa enorme de construir uma dinâmica psicológica entre a vilã a o protagonista. De acordo com uma narração que abre o filme (com a voz do Tom Wilkinson, o personagem morre logo depois e leva a narração com ele) Grace é uma psicopata, isso segundo algum tipo de resumo de bula que vai servir só para compor a frieza da personagem. Entretanto, a história faz com que essa explicação se encaixe perfeitamente bem também no protagonista. O roteiro acha realmente que essa relação é a coisa mais inteligente do filme, então explora isso até o final com toda convicção do mundo.
O que impede o filme de fazer esse detalhe acrescentar algo ao filme é, justamente, que isso não acrescenta nada ao filme. É como se tentasse, por meio disso, encontrar uma desculpa para o herói matar vilão à torto e a direita sem nem um tiquinho de arrependimento. Esse seu lado atrapalha pouco ou nada sua relação com os outros personagens ou até com a namorada, só mesmo servindo de desculpa para a violência dele com os bandidos. O que o filme não percebe é que Tom é apenas mais um brucutu de uma série de brucutus do cinema, incluindo o John McClane, que meteu bala em um prédio inteiro de bandidos e ainda fez piada depois de cada tiro.
A tentativa de colocar o protagonista dentro de espectro psicológico “especial” só diminui o aspecto de sobrevivência do personagem, já que é como se ele estivesse tendo prazer em matar aquele monte de mercenário, mas ao mesmo tempo fique preso à namorada por razões indecifráveis. Não existe uma motivação para suas ações.
Também não existe vontade de fazer um filme que chegue em um lugar intelectualmente decente. Depois de tudo, as mudanças emocionais da namorada do protagonista beiram o inexplicável. Assim como é inexplicável perder tanto tempo tentando entender e analisar um desastre tão grande quanto Ascensão do Cisne Negro.
“SAS: Red Notice” (2021); escrito por Laurence Malkin, a partir do livro de Andy McNab; dirigido por Magnus Malkin; com Sam Heughan, Ruby Rose, Andy Serkis, Hannah John-Kamen, Tom Hopper, Noel Clarke, Tom Wilkinson e Ray Panthaki