Noite fria na pré-estreia de Assalto na Paulista em um cinema a poucas quadras de onde ocorreu a ação criminosa que inspirou o filme, um assalto a cofres privados na calada da noite em um banco famoso que levou cerca de 500 milhões de Reais em pertences e espécie. O frio não impediu que tivéssemos uma sala lotada para ver a nova obra dirigida por Flávio Frederico e roteirizada por Mariana Pamplona, nem a ilustre presença da grande maioria do elenco e equipes. Este projeto ficou anos em marcha lenta por conta da pandemia, mas finalmente irá atingir 22 salas no país esta semana.
A sensação geral dessa noite foi de vitória, e a sessão convenceu ao público, que aplaudiu no final. Nem que fosse por educação. O filme tem um quê de apelo comercial misturado com um estilo de arte cada vez mais em voga: uma narrativa solta sem pretensão alguma em contar uma história de começo, meio e fim. É o cinema de sensações desprovidas de contexto. Seus protagonistas são pessoas comuns com histórias de vida pautadas por traumas geradas pela violência. E ambos respondem aos seus traumas com violência.
Embora de maneiras distintas. Enquanto Rubens (Eriberto Leão) é a explosão do chefe, de quem dá as cartas custe a quem custar e que mantém as rédeas da operação mais na base do medo e do berro, Leônia (Bianca Bin) é a figura feminina ou sentimental da trama, que reconhece que pode haver uma luz no fim do túnel sem ser o trem. Seu choro em meio à ação pode ser entendido como o desespero de quem não consegue que as coisas sejam do jeito que quer. É o mimimi das vítimas de abuso, mesmo que a vítima atire bem.
Este não é um filme de assalto onde reconhecemos a inteligência da quadrilha e nem possui reviravoltas muito inteligentes. Quando entendemos que pessoas sempre podem morrer para gerar catarse ou resolver um dilema é quando a tensão de todas aquelas horas arrombando cofres na surdina durante a madrugada some. No entanto, há tensão na maior parte do filme, e é ela que faz surgir uma adrenalina na poltrona, nos segurando nos assentos para conseguir ver o que virá além, mesmo que previsível.
A produção caprichosa compensa o resultado pouco criativo. É gostoso ouvir a seleção de músicas escolhidas a dedo para cada momento. A montagem fluida gosta de passear entre veículos e momentos diferentes na vida dessas pessoas, e os cortes ocorrem entre uma boleia de caminhão no passado para um carro na capital paulista no presente, ou entre um ônibus no Paraguai no presente e um carrinho de rolimã descendo a rua em um passado distante. Funciona. Nem que seja pela sensação vazia de uma noite fria.
“Assalto na Paulista” (Bra, 2022), escrito por Mariana Pamplona e Rafael Leal, dirigido por Flavio Frederico, com Bianca Bin, Tales Jaloretto e Eriberto Leão.