Robert Aldrich, que anos antes mostrou uma outra visão da Segunda Grande Guerra em seu Os Doze Condenados, nesse Assim Nascem os Heróis parece procurar mais um aspecto do chamado “Herói de Guerra”. Aqui não o anti-herói, nem o cheio de coragem, mas sim aquele que só está tentando sobreviver.
Em qualquer outro filme sobre o assunto, provavelmente o pelotão inteiro seria apontado como covarde, aqui, essa definição pouco honrosa parece ganhar uma profundidade pouco explorada no cinema. Não que Aldrich celebre a covardia, mas longe disso procura explicar que, diante dos horrores das guerra, em situações extremas, ela pode até ganhar um caráter quase honroso.
Para isso, o diretor monta um cenário onde é praticamente impossível apontar tal coisa em qualquer de seus personagens, até para iniciar sua missão totalmente suicida, o grupo precisa torcer para não ser alvejado logo na saída de sua base, como um grupo de patinhos esperando o tiro de pressão no parque de diversão. Esquecendo aquele mundo chamado de preto e branco, onde todos são bons ou maus, pintando aquela ilha do pacífico em todos tons de cinza possíveis.
Aldrich só corrobora mais e mais com essa ideia quando faz questão de discutir o papel de cada indivíduo dentro do conflito por inteiro, como se tanto o covarde, quanto o herói, tivessem seu lugar, ambos de uma enorme importância. Com isso, aos poucos e com uma extrema sutileza, vai fazendo com que seus personagens não mais sejam encarados como covardes, para até, alguns deles, acabarem como heróis, mas sem aquele brilho reluzente que emana de suas ações, mas algo menos luminoso, ofuscado por uma vontade de, pura e simplesmente, não morrer.
No fim de tudo, bem de seu jeito, o diretor, acaba dividindo todos em covardes e sobreviventes, talvez um ou dois heróis, mas esses não sobrando para contar a história.
E talvez seja somente um outro filme, sobre a mesma guerra, quase uma década depois, que que o diretor Samuel Fuller talvez explique perfeitamente o que Aldrich se esforçou para passar com seu Assim Nascem os Heróis. Ao fim de Agônia e Glória, lee Marvin e sua voz cavernosa lembram que “Sobreviver é a única glória da guerra”, tanto para eles, naquele momento, quanto para os personagens de Aldrich.
Too Late the hero (EUA, 1970), escrito por Robert Aldrich, Likas Heller e Robert Sherman, dirigido por Robert Aldrich, com Michael Caine, Cliff Robertson, Ian Bannen e Henry Fonda