Existia um detalhe que conseguia carregar Atividade Paranormal de jeito indolor de sequência em sequência, um ponto de ligação que fazia de tudo para que cada filme, pelo menos, tentasse ser algo novo. Atividade Paranormal 4 não chega nem a tentar fazer isso, o que o torna mais descartável ainda do que se esperaria.
É lógico que você já viu a história de uma espécie de fantasma que atazanava um casal no primeiro filme, e depois um outro casal no segundo, e por fim, um outro casal no terceiro. O que pode parecer repetitivo (e é), mas durante todo esses três filmes, o fantasma se descobriu uma demônio, o interesse deixou de ser o casal e lá atrás (no terceiro, que continua sendo o único realmente interessante) se explicou até as motivações de tudo isso. Lógico que ainda é pouca (ou quase nenhuma) informação e caberia em duas linhas de diálogos (e não três filmes), mas a proposta nunca foi e nunca será essa. A ideia são os sustos e o incômodo da câmera estática.
A vez agora é de uma jovem de 15 anos e sua família, ela começa a escutar barulhos estranhos e a desconfiar de um garotinho, filho de uma vizinha, que acabou tendo ficar uns dias em sua casa. A solução então é “abrir” todas webcams de todos computadores da casa e esperar para ver o que essas imagens captam. Na verdade ela nem acaba dando muita atenção para essas gravações, que acabam só servindo para ser o “olho do público”, mas isso são ossos do ofício.
O problema maior é que esse quarto filme, simplesmente, não parece interessado em adicionar muito a essa “mítica”. Pior ainda, acaba, pela primeira vez, partindo para uma continuação óbvia do tipo “foi isso que aconteceu cinco anos depois do primeiro”, chegando até a solução de “descobrir” algo que já estava descoberto (a natureza do demônio) e, ainda por cima, chupinhar, sem vergonha alguma, o final (e boa parte da estrutura) do filme anterior. Resumindo, Atividade Paranormal 4 é a primeira luz vermelha de que a franquia não tem mais o que contar (se é que ela já não estava acesa bem antes disso).
Mas também é lógico que quem entra em uma sessão de Atividade Paranormal 4 está pouco se lixando para muita coisa a não ser sustos, e a dupla que já tinha dirigido o último filme, Henry Joost e Ariel Schulman, simplesmente, repetem a fórmula e enterram o espectador em um número sinceros de vezes em que ele irá pular da poltrona. Mas, ao mesmo tempo, perdendo ótimas oportunidades de terem alguns momentos cuidadosos de seu trabalho sendo reconhecidos. Joost e Schulman parecem fazer muito mais pelo filme do que ira transparecer na tela, o que é uma pena.
A dupla acaba trabalhando bem demais todo conceito de “ponto de fuga”, tirando um número enorme de detalhes do lugar óbvio, o que enriqueceria o filme, caso alguém estivesse preparado para isso. Como em certo momento em que uma figura permanece sentada durante vários segundos em um sofá no ponto oposto e ninguém percebe até ela se mexer, e ainda até se divertem com pequenos detalhes, como o relógio do gato Felix que simplesmente para de funcionar ou a porta da geladeira sendo aberta e tampando o campo de visão da câmera, que cria sempre a tensão de alguma aparição na hora que ela se fechar (quase um “anti-susto”, vulgo suspense, que te afunda na cadeira). Sem contar ainda a pequena aparição que acompanha a criança em uma das madrugadas em uma sala escura, iluminada apenas por pontos projetados pelo vídeo-game.
Bons e divertidos detalhes que se perderão em um público que só quer o susto óbvio, como se todo clima de suspense e apreensão não fosse suficiente. É verdade que Joost e Schulman até conseguem usar certos momentos desse à seu favor, principalmente quando ocupam a área de visão das webcams (que servem de ponto de vista para o espectador) para depois revelarem algum tipo de aparição, mas ainda assim tudo acaba soando óbvio e artificial.
Para completar, tudo isso acaba frágil demais, já que não existe uma desculpa realmente interessante para que aquelas câmeras sejam ligadas, e nem esperança suficiente para prender o espectador, que já tem certeza que, aconteça o que acontecer, a família vai ser dizimada e o “tal demônio” (e agora seu clubinho particular de adoradoras-pagãs-do-outro-lado-da-rua) vai sair vencedor.
Talvez já esteja na hora de tentar mudar e, pelo menos, deixar os protagonistas levarem a melhor, já que o espectador, definitivamente, não vai mais levar.
Paranormal Activity 3 (EUA, 2012), escrito por Christopher Landon e Chad Feehan, dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman, com Katie Featherston, Kathryn Newton, Matt Shively, Brady Allen, Alexondra Lee e Stephen Dunham.
Confira as críticas de Atividade Paranornal 3, Atividade Paranormal 2 e Atividade Paranormal 1
Trailer