[dropcap]D[/dropcap]esde que Homem de Ferro inaugurou essa grande disputa entre Marvel e DC nos cinemas, de uma enxurrada de produções, somente algumas poucas delas conseguiram fazer algo realmente novo e realmente bom. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa é um desses exemplos.
Aves de Rapina talvez seja o primeiro exemplo de como um filme de super-heróis deveria ser quando ele não pretende ser um épico gigantesco e cheio de dinheiro. Melhor ainda, talvez Arlequina e seu filme seja, exatamente aquilo que a DC já deveria ter se tornado nos cinemas.
Dirigido por Cathy Yan, o filme é espalhafatoso, colorido, cheia de personagens incríveis, cenas de ação de tirar o fôlego em coreografias maravilhosas e uma trama simples e objetiva o suficiente para qualquer um sair do cinema empolgado com tanta ação. É lógico, isso ainda se completa com uma responsabilidade gigantesca de um filme que se importa em ser militante.
Sim, um filme feito por mulheres e que se importa muito em como elas estarão na tela sem propagar toda aquela bobagem que o cinema vem fazendo com suas garotas. Aves de Rapina é um divertidíssimo filme de ação com mulheres fortes e que descem o cacete nos vilões sem nenhuma cerimônia.
Nele, Arlequina (Margot Robbie tremendamente à vontade e incrível) foi abandonada pelo Coringa e agora precisa se descobrir uma mulher independente em uma Gotham City que decide que se vingar dela, já que ela conseguiu irritar todos bandidos que você pode imaginar, mas nenhum deles iria mexer com a “garota do Coringa”.
Arlequina não está sozinha, aos poucos, seu caminho vai cruzando com o da policial Renee Montoya (Rosie Perez), cansada de ser diminuída por ser mulher. As duas ainda se envolvem com a cantora Dinah Lance, mais conhecida como Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), que se torna motorista do mafioso Roman Sionis, vulgo Máscara Negra (Ewan McGregor parecendo se divertir à beça com o personagem).
Mas ainda não acabou por aí, porque o roteiro de Christina Hodson, sabendo exatamente o quanto não deve se levar a sério, liga todas elas através de um diamante que tem um código que levará a uma fortuna, mas que é roubado pela jovem Cassandra Cain (Ella Jay Basco), que acaba se tornando a protegida das três personagens enquanto Sionis tenta matá-la. Isso sem esquecer a prensa da Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), uma personagem misteriosa que carrega consigo o divertido clichê ambulante da “brucutu” meio maluca que só quer vingança.
Tudo isso se encaixa bem através do roteiro divertido e dinâmica de Hodson, que vai e volta através da narração da Alerquina que mais parece um fluxo de pensamento maluco de uma criança hiperativa com PHD e cheia de cocaína. Acompanhar a Arlequina é um prazer enorme e uma diversão garantida.
E se parece que Aves de Rapina é sobre a Arlequina é porque é mesmo. A vilã é o destaque do filme, tanto com sua personalidade, quanto com as cenas de ação em que ela se torna um show à parte. Nessa hora entre em campo o incrível trabalho da dupla Cathy Yan e Matthew Libatique.
Yan soa extremamente à vontade com as cenas de ação tremendamente bem coreografas, se mostrando uma verdadeira diretora de filmes do gênero, tanto na hora de deixar as lutas mais claras possíveis, quanto quando usar bem alguns muitos slow motions com um jeitão de Guy Ritchie nos bons tempos de carreira, mas mais importante, fugindo completamente da bagunça visual sem precedentes que muita gente vem fazendo na hora de diminuir a velocidade do filme em suas lutas.
Já Libatique vem de uma carreira de parceria com Darren Aronofsky em filme com visuais impressionantes como Cisne Negro, Requiem Para um Sonho e Mãe! Dessas suas experiências parece surgir um visual extravagante, gritante, meio plastificado, mas cheio de personalidade. Tudo isso você encontra em Aves de Rapina, o que acaba sendo um show visual para os espectadores que enfim entendem o que Esquadrão Suicida poderia ter se tornado.
Por fim, quando o assunto é personalidade, Arlequina e suas amigas entregam esse filme poderoso e que não tem medo de levar as garotas para o lugar que elas sempre mereceram estar: chutando bundas e se juntando para serem um dos filmes de super-heróis mais divertido e desencanado que essa disputa entre Marvel e DC conseguiu produzir.
“Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn” (EUA, 2020), escrito por Christina Hodson, dirigido por Cathy Yan, com Margot Robbie, Rosie Perez, Mary Elizabeth Winsted, Jurnee Smollet-Bell, Ewan McGregor, Ella Jay Basco e Chris Messina.