O eterno pátio de obras que se tornaram as cidades chinesas é novamente o pano de fundo de um filme íntimo sobre a vida e suas constantes mudanças. Essas mudanças, o filme faz questão de ressaltar, não difere se você é adulto ou criança. Ele ressalta porque Aves Suburbanas (ou “Pássaros do Subúrbio”) possui em sua narrativa dois núcleos de personagens que apenas eventualmente se cruzam no físico, mas estão no mesmo patamar do metafísico: a análise das relações pessoais, a busca da identidade e validação no grupo, o eterno cabo de guerra entre seres humanos, sejam colegas de uma sala de aula ou de um departamento de engenharia.
A vida dentro desse microcosmos chinês de destruição e construção constantes encontra seu melhor símbolo em uma equipe de engenheiros que está medindo prédios e pontes em torno de mais uma grande reforma na cidade para a construção de um metrô. Esse projeto, como é de praxe, envolve desalocar moradores, demolir prédios, mover enormes quantidades de entulho e cimento através do rio. É como analisar em retrospecto fenômenos mais antigos, como “o milagre brasileiro” da década de 70, mas em escala muito maior e em um país verdadeiramente rico.
A fauna observada de Aves Suburbanas, apesar do título sugerir, não são animais voadores da floresta ou gaiola mais próximas, e sim as diferentes personalidades de seres humanos nessas interações forçadas ou naturais. Do ponto de vista do filme, mais forçado, ou previsível, do que natural. Do ponto de vista de nós, espectadores, somos observadores desses pássaros e outros.
Isso fica óbvio na escolha de nomes dos personagens, que vão de “Formiga” a “Homem-Aranha”, passando por “Andorinha”. São apelidos? Provavelmente. Mas não sabemos ao certo. O chão do filme não é tão firme, e ele se orgulha disso, brincando com as metáforas de um mundo de faz-de-conta, sendo que a brincadeira serve tanto para as crianças quanto para os adultos.
“Jiao Qu De Niao” (Chi/Tai, 2018), escrito e dirigido por Sheng Qiu; com Yihao Chen, Zhihao Chen e Jing Deng.