Bar Doce Lar (Tender Bar) | Um filme confiável

Bar Doce Lar, mesmo com a adaptação ruim do título em português, é um filme confiável.  A história é baseada no livro de memórias do autor J.R. Moehringer, portanto, “baseado em fatos reais”, ou “lembranças reais”, mas mesmo assim é um filme que garante tudo aquilo que promete, principalmente, pois o nome de George Clooney nos créditos de diretor quase sempre assegura isso.

Não que Clooney tenha uma carreira de diretor que chegue aos pés do prestigio de seu currículo como ator, mas pelo menos é um cineasta que cumpre o que promete em cada um dos seus filmes. Um cinema com as emoções nos seus lugares, personagens firmes e uma direção sempre econômica e direta. Bar Doce Lar (ou no original “Tender Bar”) tem tudo isso. Portanto, confie no filme.

Clooney tem poucos segundos para colocar seu filme dentro de uma época específica, ali em algum lugar do finalzinho dos anos 70 e acompanhando mãe (Lily Rabe) e filho (Daniel Raniere) voltando à casa dos avós da criança depois de serem abandonados pelo pai da criança. A casa é comandada pelo avô (Chritopher Lloyd) e pela presença paterna do Tio Charlie (Ben Affleck). E só isso mesmo, o resto é delicadeza e sentimento.

O roteiro é escrito por William Monahan (Rede de Mentiras e Os Inflitrados), mas não espere nada nem perto de seus outros trabalhos. A ideia aqui é acompanhar as memórias de JR, que começa vivido por Ranieri e depois, mais adulto, passa a ser vivido por Tye Sheridan. As memórias narradas pela versão adulta do personagem dão ao filme um jeitão ainda maior de, justamente, memórias. Portanto, esperar mais do que isso seria um exercício de frustração.

Talvez exista até uma âncora moral que fique sempre ligada ao Tio Charlie de Affleck, mas o filme está mesmo interessado é no que JR irá fazer com tudo aquilo que aprendeu, seja com o tio, seja com a mãe, seja com o avô, seja com a vida, mas nunca com o pai. Bar Doce Lar não é refém dessa ausência, muito pelo contrário até, JR é seguro de seus sentimentos pelo pai e isso nunca é um impedimento para ele.

O roteiro de Monahan e a direção de Clooney ainda criam esses três lados de uma mesma masculinidade. O pai de JR (Max Martini) é absolutamente tudo aquilo que o Tio Charlie tentou ensinar o sobrinho a não se tornar. Mas o próprio protagonista nunca tenta ser uma versão do tio, pelo contrário, aproveita dele o melhor e tenta crescer, ser ele mesmo. Visualmente Clooney os afasta, mas sempre com a aquela impressão de que o jovem cresce, se torna ele mesmo, mas nunca se afasta. Vai embora para uma nova vida, mas (literalmente) com tudo que o tio lhe ensinou.

Bar Doce Lar (Tender Bar) | Um filme confiável

Portanto, Lar Doca Bar se permite celebrar as qualidades do Tio Charlie, não porque todo mundo gastaria de ter tido um “Tio Charlie”, mas sim porque não permite que o personagem caia no estereótipo tóxico do cara turrão por trás de um balcão. Affleck empresta toda sua confiança para construir um personagem que mistura uma “inteligência das ruas” com uma espécie de academicismo movido a páginas e mais páginas de livros empilhados ao redor de sua vida, seja em casa, seja em seu bar. Tio Charlie é sábio e JR é o fruto disso. Affleck é um ator que se entrega e é preciso em seus personagens, Sheridan é muito menos experiente, mas acerta cada vez que dá as caras em um filme.

O resto do elenco vai na mesma toada. Lloyd tem pouco espaço, mas o que tem é roubado por ele. Um velho teimoso, mas que tem essa mesma capacidade de seu filho, Charlie, de estar em mundos diferentes e se adaptar intelectualmente a cada momento. O personagem é delicioso e a cena dele levando o neto para um café da manhã da escola é um exemplo do poder de Clooney de criar uma experiência delicada e emocional, mesmo diante de uma premissa aparentemente banal.

Martini também tem poucas cenas, mas Clooney aproveita cada uma delas para construir um pai que não só é ausente, como é absolutamente tudo de mais errado que poderia influenciar JR. Clooney fixa sua câmera no capô do carro para mostrar que sua presença na vida do filho se resume a um tempo tão curto que não é necessário nem cortar a cena ou ver o cigarro acabar. O ator sabe disso e aproveita absolutamente todos os momentos para ser mais uma grande atuação do filme.

Clooney tem esse cuidado estética de colocar seus personagens em locais sinceros e verdadeiros. Diálogos deliciosos, inteligentes, bem-humorados e cheios de personalidade, todos sempre interessados nessas pessoas e no que estão sentindo. O diretor reconhece a força e a história e opta por conta-la sem exageros, apenas objetividade.

É lógico que a história por si só tem suas reviravoltas e surpresas, nada de muito incrível, mas que, pelo menos, vai mostrando o quanto esses momentos nas memórias de JR foram formando esse adulto.

Bar Doce Lar (ou melhor, “Tender Bar”) é então esse filme confiável para quem busca um drama leve, com um diretor seguro e um elenco que não decepciona em nenhum momento. Uma experiência madura, que passa rápido e deve ficar na lembrança como um momento gostoso, um passeio na praia, um gole de cerveja ou um ensinamento que você carrega estrada afora.


“Tender Bar” (EUA, 2021); escrito por William Monahan, a partir do livro de JR Moehringer; dirigido por George Clooney; com Ben Affleck, Tye Sheridan, Daniel Ranieri, Lily Rabe, Christopher Lloyd, Max Martino, Rhenzy Feliz e Briana Middleton.


Trailer do Filme – Lar Doce Bar

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