Batman - O Cavaleiro das Trevas Filme

Batman – O Cavaleiro das Trevas | Talvez o filme definitivo do personagem


Depois da empolgação e de todo hype em volta de Batman – O Cavaleiro das Trevas, o que sobra não é nada mais que… sensacional. É fácil ficar sem palavras diante de uma obra cinematográfica que beira uma competência digna dos grande filmes, o responsável por isso é o diretor Christopher Nolan, que traz de volta toda sua equipe do primeiro, talvez para tentar fazer o filme definitivo do homem-morcego, mas que acaba conseguindo até mais do que isso.

Muito antes de ser uma adaptação de um personagem dos quadrinhos, seguindo a nova moda de Hollywood, Batman – O Cavaleiro das Trevasé um filme policial completo, equilibrado e sem um excesso sequer em suas mais de duas horas (154 minutos na verdade). Durante todo esse tempo, o espectador se esbalda em um ritmo alucinante, mas que não desgasta em nenhum momento uma trama concisa e altamente cativante.

Batman agora não é mais uma novidade em Gotham City, sua figura já toma status de ícone, de lenda, da salvação de uma cidade que beira o caos (palavra que provavelmente caracteriza melhor o filme). É nesse meio que surge a enigmática figura do Coringa, um criminoso totalmente psicopata que, não só pretende tomar o poder do submundo da cidade, como ainda varrer dela seu justiceiro mascarado.

Antes de qualquer coisa, é claro que a melhor coisa do filme é o Coringa interpretado por Heath Ledger, que foi encontrado morto logo depois do fim das filmagens e que com certeza fará dessa incrível performance seu legado artístico para as próximas gerações. Nada em sua curta porém consistente carreira chega nem aos pés de seu palhaço assassino, deixando a versão do filme de 1989 (Jack Nicholson que me desculpe) com um sorriso amarelo de vergonha (não podia perder tal trocadilho, mais desculpas).

É lógico que grande parte do resultado da atuação se dá pelo sensacional trabalho de composição de Ledger, sumindo completamente por detrás do personagem, impecável em todos sentidos, desde a maquiagem borrada (que parece ter sido ideia do próprio) ao jeito meio arrastado de se movimentar, com um olhar ensandecido, meio vazio, embriagado pelo caos e pela loucura. Mas é impressionante mesmo como, mesmo vestido de enfermeira e totalmente descaracterizado, Ledger cria um personagem com vida própria, que não precisa de nada para ser, já, um dos maiores vilões da história do cinema.

Porém, não é Ledger faz um trabalho melhor que Nicholson, mas sim Nolan que se demonstra mais a vontade com seus objetivos que Tim Burton (diretor em 1989). O Coringa de Nolan (isso mesmo eu acho que o Coringa é dele até mais que de Ledger) é uma força da natureza que se encaixa perfeitamente em toda ¿esquizofrenia¿ que circunda o filme. Dezenove anos atrás, Burton e Nicholson deram vida a uma palhaço do crime, Hoje Nolan e Ledger criaram, como o proprio personagem fala, ¿um mensageiro do caos¿, um Coringa que nem Batman e muito menos a polícia conseguem dar conta. Sai o palhaço entra em cena o monstro.

Nolan constroi toda trama do filme sobre essa insanidade e imprevisibilidade psicótica do personagem, cria um ritmo de caçada onde todos batem cabeça atrás de uma trilha de atrocidades do Coringa. Não deixando o filme não se fazer sobre o personagem, mas sim sobre uma onipresença dele, como se essa sua maluquice rodasse todas engrenagens dos personagens, e por fim, a cada momento acabassem mais e mais se aproximando dessa insanidade. O diretor sabe da força dele e não desperdiça isso, poucas vezes no cinema um personagem foi tão bem apresentado como na sequencia inicial do roubo de banco, onde, sem quase aparecer, tem todo perfil traçado, explorado e extrapolado, ali, naquele momento, ditando todas regras do resto do filme, mostrando uma habilidade narrativa e de composição de cena impressionantemente concreta, sem uma ponta solta sequer. Tudo que aparece na tela tem seu propósito, um que diz para temer o que vem a seguir.

Mas o filme não chegaria tão longe sem o show que são todas sequencias de ação, cheias de perseguições frenéticas, perfeitamente picotadas por uma montagem de cair o queixo, sempre acompanhando de uma câmera incansável que parece perseguir a tudo e a todos, não deixando o espectador nem ao menos piscar (e quase não respirar) direito, sufocando-o no assento do cinema.

É lógico que Batman – O Cavaleiro das Trevas não funcionaria ainda tão bem sem mais um trabalho extraordinário de Christian Bale e seu Batman, dando sempre a impressão de não precisar de máscara nenhuma para se transformar no ícone da justiça de Gotham, ao mesmo tempo que se separa de toda imagem de Bruce Wayne. Mais do que nunca na história da franquia de filmes, ele percebe que Bruce Wayne é o verdadeiro disfarce de Batman e não o contrário.

Contudo, é graças a Nolan que talvez pela primeira vez o espectador ganha o Batman dos quadrinhos, aquele mesmo que a décadas vem impondo suas vontades em sua cidade, não como um exemplo, e muito menos como um herói, apenas fazendo sua obrigação de limpar toda sujeira das noites escuras. Sem se perder em uma visão sua, mas sim dando ao Batman, pela primeira vez, virar o pescoço, conseguir olhar para trás na hora de dar a ré e ver o quanto seus erros do passado podem ser deixados por lá mesmo.


The Dark Knight (EUA,2008) escrito por Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S.Goyer, dirigido por Christopher Nolan com Christian Bale, Heath Ledger, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Meggie Gillenhall, Michael Cane, Morgan Freeman


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