[dropcap]D[/dropcap]ois tabuleiros divididos por linhas verticais e horizontais (como quadrantes), dois jogadores que, escondidos um do outro, posicionam pequenas embarcações de plástico (ou qualquer outro material) nessas linhas, depois disso é só cada um tentar acertar, às cegas, a esquadra do adversário (“B12… água…. C7… acertou meu encouraçado”). Mas se você acha que fazer disso um filme inteiro de 130 minutos é pretensão demais, imagine quando, para completar, um dos lados é ainda um monte de ETs. Bem vindos a Battleship – A Batalha dos Mares.
E sua história é simples: um planeta semelhante que é descoberto em alguma galáxia distante e uma espécie de mensagem que é mandada em sua direção. Alguns anos se passam e (exatamente com um dos nerds presentes faz questão de lembra quando o contato é feito: “assim como Colombo e os índios”.) essa raça de alienígenas responde, mas com uma invasão.
No meio disso tudo está o Tenente Alex Hooper (vivido pelo inexpressivo Taylor Kitsch, o John Carter de Marte), um jovem metido a anti-herói, com um irmão responsável (Alexanders Skarsgard), que é capitão da marinha, e uma namorada (Brooklyn Decker) que e filha do Almirante vivido por Liam Neeson. Acontece que, justamente no momento que os ETs decidem invadir a Terra, a marinha dos EUA está participando de um tipo de “Jogos de Guerra” (onde, aparentemente, só participam americanos e japoneses, talvez em “homenagem” a Pearl Harbor, já que os jogos acontecem no Havaí) e alguns de seus navios ficam presos com as naves dos invasores dentro de um campo de força, se tornando então a única esperança do planeta.
E sim, você já deve ter visto tudo isso em vários lugares, com o protagonista que tem que vencer todas sua irresponsabilidade para salvar a Terra, enquanto se torna aquele líder nato, aqui com um pequeno spoiller, na ausência do irmão (já que todos que conversam com ele o lembram do quanto tem potencial, mas o desperdiça).
Mas a impressão maior é que o diretor Peter Berg (de Hancock) nem mesmo sabe o que quer fazer, já que começa com uma apresentação descontrolada de seu protagonista, com direito até a uma invasão de loja de conveniência regada à “Pantera Cor de Rosa” e uma disputa vexatória de um jogo de futebol, tudo isso, fazendo parte de um aparente esforço para “desenhar” a personalidade de seu herói, mas que acaba apenas pintando um completo idiota, que só entra na marinha por ser um idiota, e arruma briga durante o jogo por seu mais idiota ainda. O problema é que, no resto do filme, a mudança de personalidade é tão repentina, dando lugar a um líder estrategista (que ainda esquece de todo bom humor inicial), que faz ser difícil entender por quais razões se perde tanto tempo de filme com tudo aquilo no começo.
Portanto, durante mais de ¼ do filme o espectador é apresentado a alguém que não é aquela pessoa que irá acompanhar no resto do filme, a não ser que você acredite que um completo imbecil que invada uma loja para impressionar uma garota (sabendo que está sendo filmado), e arrume briga com um capitão japonês, possa se tornar um líder destemido. Não há qualquer desenvolvimento e isso só piora quando o resto do roteiro parece fazer menos sentido ainda.
Battlefield, graças ao roteiro de Erich e Jon Hoeber (que também escreveram o divertido RED – Aposentados e Perigosos), não se resume a essa “batalha naval”, já que o tal campo de força ainda cobre parte do Havaí, o local no qual a NASA transmite a tal mensagem, no mesmo lugar em que a namorada do protagonista (que é fisioterapeuta da marinha) está fazendo uma caminhada com um paciente, um ex-soldado que perdeu as duas pernas e a autoestima. Sem a menor importância dentro da história, a dupla então acaba defendendo a estação de transmissão da invasão dos extraterrestres (o que dá ao ex-soldado força para ultrapassar seus medos blá, blá, blá…). Na aparente obrigação de dar espaço para a moça (já que não poderia ser só uma loira bonita para abrilhantar o filme), os irmãos Hoeber criam uma segunda linha narrativa sem nenhuma expressão e que faz ser impossível não se irritar com toda ingenuidade com que o roteiro se move.
Nada em Battleship parece ser feito para surpreender o espectador, que precisa então se contentar com um punhado de sequências de ação convincentes (e até um plano sem cortes que acompanha um dos navios afundando e prova toda qualidade dos efeitos especiais), mas nunca acontecendo fora do “esquemão” de filmes de ação, o que logo se torna repetitivo e, não coincidentemente, só se deixa ser empolgante quando enfrenta um par de naves extraterrestres às cegas (assim como no jogo original, o que se torna uma referência divertida).
E falando em repetição, além de todos diálogos sem a menor importância dentro da trama e que não param de aparecer, Berg ainda parece envolvido por um “momento Transformers“, já que, além de apontar uma antena parabólica para o céu com um monte de ETs preparando uma invasão, ainda não se cansa de rodar o olhar desolado de seus personagens com o sol à pino no fundo (assim como parece não ter fim a quantidade de velhinhos que vão de encontro ao USS Missouri para ajudar o protagonista a salvar o mundo).
Para completar, em algum lugar de Battleship ainda é possível encontrar a estreia da cantora pop Rihanna nas telas (é só procurar uma moça que não tira o boné, ou o chapéu, da cabeça por nada no mundo, até sob a água), assim como Hong Kong sendo destruída por um pedaço da nave de um dos invasores (talvez para dar um pouco de descanso para Manhattan), só fazendo falta mesmo aquele momento (tão esperado) de um dos alienígenas gritando “Água” ao verem mais um míssil errando o alvo (isso sim seria divertido).
Battleship(EUA, 2012) escrito por Erich Hoeber e Jon Hoeber, dirigido por peter Berg, com Taylor Kitsch, Alexander Skarsgard, Rihanna, Brooklyn Decker, Tadanobu Asanos, Hamish Linklater e Liam Neeson.