É realmente uma pena que Besouro não consiga ser aquilo que mostra claramente querer: um filme de ação puramente brasileiro. Talvez deixe o legado da capoeira como luta no cinema brasileiro, mas enquanto isso, será lembrado apenas por ser arrastado e desinteressante.

A história do capoeirista/lenda que leva o mesmo nome que batiza o filme, e que ajudou a libertar os negros ainda escravizados no recôncavo baiano da década de vinte, tem todos os quesitos para o contrário, divertir, mas não consegue por parecer preocupado demais em ser um filme original. E até por que não, sério demais.

Enquanto o roteiro de Patrícia Andrade tenta criar uma história diferente e pular fora do lugar comum, acabando por se perder dentro de sua própria narrativa, a direção de João Daniel Tikhomoroff não consegue imprimir o ritmo necessário para que essa falha da trama seja encoberta. Se no início do filme você encontra um filme ágil, com uma montagem paralela do personagem título jogando capoeira enquanto seu mestre vai de encontro a morte, o que vem depois anda entre o contemplativo e o mal posicionado.

Tikhomoroff enxerga a beleza das imagens e passeia por elas com sua câmera, bem competente é preciso lembrar, mas esquecendo de dar sentido à grande parte delas. Verdadeiras pinturas, mas sem um objetivo claro, já que a trama não consegue tratar dela mesma, deixando buracos para serem mal preenchidos. Uma demora gigantesca em traçar uma trama mais concreta deixa ainda todo o resto sem um alvo, o que faz ser difícil acompanhar aquilo sem se chatear.

É óbvio que o suposto triangulo amaroso entre os personagens apontará para um final trágico e que o conflito entre Besouro e Quero-Quero se mostra mais que anunciado, mas tudo parece empurrado para a segunda metado do filme de um jeito espremido. Antes disso uma falta de dicas ainda pode afastar o público desse entrevero, como se tudo parecesse feliz demais antes de se tornar caótico e trágico.

Pelo lado de uma certa contemplação, tudo piora ainda mais quando o filme resolve criar um herói com pouca (ou nenhuma) ligação com o mundo dos personagens. Um pouco mítico demais ao mesmo tempo que não parece conseguir conviver com essa mítica, já que quando aparece, apanha, erra e não dá nenhum show. Em alguns outros momentos ainda se afasta mais ainda da trama ao ser retratado com uma figura que medita e dá cambalhotas (“Aús”) enquanto é observado pelos orixás, esses bem caracterizados (a não ser pela terrível voz de filme de terror B do Exu), mas tudo isso acabando por ter pouca importância real para a trama.

Se pendesse um pouco mais para um filme de ação (já que quando essas sequências aparecem são bem coreografadas e divertidas), e ainda apostasse em seus heróis, vilões (igualmente interessantes), traições, vingança e frases de efeito, (sem medo de caminhar sobre clichês) Besouro seria um sucesso e entraria para a história do cinema nacional. Ao tentar fugir de um certo “estigma hollywoodiano” que viria com isso, acaba se tornando apenas uma estréia burocrática de um diretor que parece conseguir fazer um pouco melhor do que fez.


idem (Bra, 2009) direção: João Daniel Tikhomiroff com: Aílton Carmo, Ânderson Santos de Jesus, Jéssica Barbosa e Flávio Rocha


1 Comentário. Deixe novo

  • O filme podia e deveria ser bom mas ao contrário disso é pessimo, o roteiro é completamente perdido, a história é mal contada e solta.

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