Estiloso, ocasionalmente incômodo e assumidamente bizarro, Bom Comportamento também é uma experiência irregular e, muitas vezes, não tão forte quanto acredita ser. Mesmo assim, o longa constrói uma atmosfera própria e ainda consegue desenvolver com louvor a relação entre os personagens centrais. Além disso, é sempre bom ter a oportunidade de conferir trabalhos verdadeiramente originais na telona.
Connie (Robert Pattinson) e seu irmão Nick (Ben Safdie), que tem deficiência intelectual, assaltam um banco. Durante a fuga, Nick acaba sendo preso e, então, Connie decide fazer o que for necessário para conseguir os 10 mil dólares que faltam para pagar a fiança do irmão. Quando Nick apanha dentro do presídio e é transferido para um hospital, Connie resolve resgatá-lo ¿ o que não dá tão certo quanto ele inicialmente havia pensado.
As tentativas de Connie de reunir os milhares de que precisa o mandam cada vez mais fundo nos piores espaços da cidade, e mesmo quando ele interage com um ambiente relativamente comum, como a casa da jovem Crystal (Taliah Webster), Connie parece contaminar os arredores com sua própria podridão. Para tanto, a fotografia de Sean Price Williams é fundamental: as luzes neon da cidade, com destaque para a cena do parque e para aquela envolvendo um pó vermelho, imprimem energia ao longa, enquanto os apagados tons de verde e amarelo presentes no filme trazem incômodo e decadência. Enquanto isso, a direção dos irmãos Ben Safdie (que, além de atuar, também montou o filme juntamente com Ronald Bronstein) e Josh Safdie (que, ao lado de Bronstein, também assina o roteiro).
No centro da narrativa, temos o Connie de Robert Pattinson, personagem ao qual o ator se entrega, abraçando as nuances de um jovem que, enquanto demonstra um carinho imenso pelo irmão, não exita em beijar uma garota de 16 anos na tentativa de concluir seus planos. Jennifer Jason Leigh e Barkhad Abdi têm poucos minutos de tela, mas os fazem contar. A jovem Taliah Webster é um destaque entre o elenco, surgindo segura diante de seus colegas mais velhos e mais experientes. Enquanto isso, Buddy Duress até faz um bom trabalho como paciente do mesmo hospital em que Nick está internado, mas o surgimento de seu personagem traz ao filme um problema de ritmo que, até então, não existia. Pois na maior parte do tempo, a montagem de Safdie e de Bronstein é eficiente ao permitir que a trama avance sem que isso fique no caminho da construção de atmosfera, que é a maior força de Bom Comportamento.
Entretanto, a partir da introdução de Duress, os acontecimentos tornam-se mais e mais acelerados, sem que os demais elementos do filme consigam acompanhar muito bem. Mas os cineastas conseguem reverter a situação novamente a tempo de encerrar o longa com louvor ¿ e se a cena final, que se desenrola enquanto os créditos sobem, funciona tão bem, isso é mérito também da bela atuação de Ben Safdie, que traz peso a um personagem que mistura ingenuidade, ansiedade e uma violência sobre a qual ele não tem muito controle. Finalmente, a trilha sonora memorável de Oneohtrix Point Never traduz perfeitamente as ânsias, medos e arrependimentos de seus personagens.
A atmosfera incansável de Bom Comportamento é uma extensão da energia nervosa de Connie, um homem atormentado por suas próprias ações, correndo contra o tempo e contra seus demônios. Assim, o filme se estabelece como uma experiência original e esteticamente vibrante, centrado em um protagonista que merece ser conhecido.
“Good Time” (EUA, 2017), escrito por Ronald Bronstein e Josh Safdie, dirigido por Ben Safdie e Josh Safdie, com Robert Pattinson, Ben Safdie, Taliah Webster, Jennifer Jason Leigh, Buddy Duress, Barkhad Abdi, Necro e Saida Mansoor.