*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]F[/dropcap]azendo um trocadilho com o filme icônico de Leos Carax (Boy Meets Girl), Boy Meets Gun é uma mistura de drama, comédia e investigação policial que consegue entreter com o mundinho criado pelo roteirista Willem Bosch, que também é o escritor do roteiro do cativante Afterlife, também em exibição na 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
A parte mais inusitada e divertida do longa dirigido por Joost van Hezik é que a narradora, apesar de não ser uma personagem no sentido de realizar alguma ação propositada, é uma pistola Desert Eagle (se você já jogou Counter Strike sabe que arma que é… para quem não jogou, imagine uma pistola de mão que faz metade do estrago de um rifle). Bonita e estilosa, ela conta a sua história de como foi parar nas mãos de um professor de filosofia, em uma sequência nada sutil, mas que serve para nos jogar na ação facilmente.
Toda a trama é desenvolvida considerando que o detentor de uma Desert Eagle irá aumentar seu nível de “macheza” exponencialmente, e esse professor de meia-idade já se perguntando se existe de verdade acaba virando o jogo a partir do momento em que ele guarda essa arma na gaveta de sua mesa, não sem antes cuidá-la com carinho (a narradora agradece).
Minimamente interessante, essa premissa vai aparentemente se tornando insuficiente, pois Willem Bosch começa a entregar um segundo filme de investigação policial junto de um drama de um jovem com a face descaracterizada que deseja fazer uma operação e aumentar sua auto-estima, já abalada de ter que conviver com seu sinistro pai, um “colecionador” de armas com um olhar que você não gostaria de cruzar na rua (e ele faz uma referência não muito inteligente com o vilão de Javier Bardem, Anton Chigurh, de Onde os Fracos Não Têm Vez, usando para isso o cabelo estranho como artefato).
A história vai piorando conforme novos elementos vão sendo acrescentados ou expandidos, como uma aluna universitária que vira o interesse do professor em sua sala ou a incrível coincidência da investigadora de polícia conhecer um desses personagens. De certa forma, Boy Meets Gun é cercado de boas ideias, algumas são aproveitadas, outras não, mas a melhor delas nunca é usada: economia nos conceitos. Este filme ficaria infinitamente melhor se dividido em dois pelo menos.
“Boy Meets Gun” (Hol, 2019), escrito por Willem Bosch, dirigido por Joost van Hezik, com Eelco Smits, Victor Ijdens e Mara van Vlijmen.