Nada que eu escrever vai ser suficiente para expressar a beleza de Boyhood. Após uma semana digerindo esse filme e pensando sobre o que redigir, decidi aceitar esse fato e apenas levantar algumas das muitas qualidades do novo – ou nem tanto, levando em conta que a produção começou em 2002 – filme de Richard Linklater.
O filme conta a história de Mason Jr (Ellar Coltrane) dos 5 aos 18 anos de idade. O detalhe – embora a maioria já saiba – é que o filme começou a ser gravado há mais de uma década e traz o mesmo elenco durante os 12 anos de produção. Anualmente, os intérpretes de Mason Jr, da irmã Samantha (Lorelei Linklater), da mãe Olivia (Patricia Arquette) e do pai Mason Sr (Ethan Hawke) se reuniam à equipe para gravar mais uma parte do filme. E, agora, nasce essa bela obra de arte, que versa, fundamentalmente, sobre a vida e o tempo.
Não há um grande conflito, uma grande história ou um grande ponto de virada. Por isso, é difícil escrever sobre Boyhood. A narrativa do filme é simples e complexa simultaneamente. Ao acompanhar os mesmos personagens por tanto tempo, o que mais toca é o desenvolvimento de cada um, o que cada um acabou se tornando – e isso se reflete nos atores, que acompanham as fases de vida dos personagens naturalmente.
Essa característica é especialmente marcante em Patricia Arquette: conforme os filhos vão crescendo, uma maturidade vai se criando nos olhos de sua Olivia. É dela, também, um dos momentos mais emocionantes do filme, quando Mason está prestes a ir para a faculdade. Sem spoilers, o questionamento de Olivia é completamente pertinente e comum – certamente já nos pegamos pensando nisso em algum momento, e, para muitos, isso é um dos maiores medos da vida.
Seria um crime, porém, colocar os holofotes apenas sobre Arquette. O elenco todo se desenvolve maravilhosamente bem, e a passagem do tempo apenas destaca esse amadurecimento tanto dos atores quanto dos personagens.
O tempo, no filme, decorre sem que haja marcação de sua passagem, mas é possível perceber pelos atores quando algum tempo passou. Essas transições suaves criam a sensação de que, embora o tempo pareça passar devagar, ele corre sem que percebamos e, quando nos damos conta, já foi. Aliás, a sensação ao ver o filme é precisamente assim. Duas horas e 45 minutos passam brandamente.
É impossível falar de Boyhood sem mencionar as referências à cultura dos anos 2000. Quem vivenciou isso de forma tão intensa quanto eu, se identificará com vários momentos. Essas referências também conferem leveza ao filme, que tem nessa característica um de seus maiores trunfos: apesar de ser um drama, está longe de ser pesado, e os alívios das referências produzem momentos de risos, mas sem fugir do clima geral. (Obs.: o aniversário de 15 anos de Mason Jr é especialmente engraçado).
Boyhood é um filme consistente do início ao fim, embora seu fim não seja exatamente conclusivo. A produção se propõe retratar parte de uma vida e cumpre seu objetivo: a vida só finda na morte, caso contrário, apenas continua seguindo.
“Boyhood” (USA, 2014), escrito por Richard Linklater, dirigido por Richard Linklater, com Ellar Coltrane, Lorelei Linklater, Patricia Arquette e Ethan Hawke.