Impossível negar que a ideia seja boa, já que todo herói de ação passa por cima de uma infinidade de bandidos genéricos e nunca a família de nenhum deles voltou para se vingar, só no primeiro Busca Implacável foram 32 mortos. O problema é que, talvez, apenas isso não seja suficiente para quebrar esse número e, justamente por isso, Busca Implacável 2, ainda que muito mais cuidadoso, fica aquém do primeiro. Principalmente para quem quer mesmo é ver, de novo, Liam Neeson em ação.
Não que ele não faça o que se espera, ele faz, mas ainda assim, por praticamente não ter uma história a seguir, a não ser a desses parentes dos bandidos do primeiro filme tramando uma vingança contra o protagonista e sua família enquanto curtem férias em Istambul, existem muito menos “corpos para serem contados”. Em compensação, uma mudança geral por trás das câmeras parece influenciar e buscar mais sutileza no material que tem em mãos.
Ainda que o roteiro escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen (mesmos do primeiro) continue alinhavando mal sua história, e dessa vez perdendo grande parte do filme mostrando os bandidos, mesmo sem a menor importância (já que depois, um deles vai explicar tudo que aconteceu para o personagem de Liam Neeson, e, obviamente, para o espectador), há um lado de suspense em Busca Implacável 2 que dá um ritmo interessante e até mais divertido que o primeiro.
Principalmente, graças à montagem precisa de Camille Delamarre e Vincent Tabaillon, Busca Implacável 2 consegue, assim que a ação começa (mesmo com demora), conviver bem entre as duas linhas narrativas que se iniciam: uma com o protagonista preso e outra com a filha (Maggie Grace) fugindo de alguns bandidos e indo a seu encontro. É lógico que para que tudo dê certo, Besson e Mark Kamen não parecem se importar muito com qualquer sentido, o que resulta em buracos enormes, mas que são bem escondidos pela correria do filme. Ou você acha que toda aquela “ecolocalização” do protagonista serve para alguma coisa mesmo senão “ficar bacana”, já que ele poderia facilmente usar o GPS do carro com o qual foge para achar o lugar de seu cativeiro.
Mas é lógico que esses pontos também ajudam a criar a “persona” desse personagem e do quanto ele poderia, facilmente, deixar no chinelo a grande maioria de heróis de ação que, vez ou outra, aparecem nos cinemas. É fácil então acreditar que, depois de tudo que ele fez (mesmo amarrado a um cano em um quarto escuro), ele dê cabo de (literalmente) todo elenco do filme que não esteja ligado a sua família.
Outra mudança que ajuda é a entrada de Olivier Megaton na direção, vindo do agitado Carga Explosiva 3. Com uma câmera convicta nas cenas de ação, principalmente nas perseguições, ainda acerta no modo como se posiciona aberto e aproveita toda geografia da cidade turca a seu favor. E mesmo que escorregue e acabe perto demais das cenas de ação em interiores, desvalorizando algumas boas coreografias das lutas (falta um pouco mais daquilo que ele faz na última sequencia, onde Neeson enfrenta um bandido em uma casa de banho abandonada), ainda consegue “tirar leite de pedra” do pobre material que tem em mãos. Afinal, não tem qualquer história para contar.
E ainda que a premissa seja boa (e que faria o Schwarzenegger tremer de medo com uma continuação de Comando Para Matar e suas 88 mortes), ela acaba sendo pequena demais para ser só ela a comandar essa continuação. Principalmente por, durante quase metade do filme, o espectador ser obrigado a ter que conhecer (mais uma vez) todos aqueles personagens (e ainda forçando a volta de uma dinâmica familiar entre o protagonista e a ex-esposa). E a última coisa que alguém quer ao entrar em uma sessão de “Busca Implacável 2” é saber quem está aprendendo a dirigir, quem ganhou o primeiro namorado ou quem gosta de encerar o próprio carro.
Taken 2 (Fra, 2012) escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen , dirigido por Olivier Megaton , com Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Luke Grimes e Rade Serbedzija.