Capitã Marvel | Despretensioso e divertido

É curioso como as pessoas buscam grandes obras-primas do cinema em lugares que, muito provavelmente, elas não estariam. Portanto, aceitar a imperfeição de Capitã Marvel não é “passar o pano” em suas falhas, mas sim se permitir a diversão cósmica com essa nobre guerreira, “e heroína”, Kree.

Os Krees são uma raça altamente evoluída (você já os viu no MCU quando Ronan o Inquisidor queria acabar com os Guardiões da Galáxia) que trava uma guerra praticamente eterna com os Skrulls, criaturas verdes, mas que podem tomar a aparência de qualquer um. No meio disso, Vers (Brie Larson), faz parte desse grupo de elite que combate Skrulls e é comandando por Yon-Rogg (Jude Law).

Mas Vers, na verdade, não é quem ela pensa ser, entre um flash de memória e outro, acaba sendo capturada e torturada pelos Skrulls, que acabam descobrindo que ela é terráquea e que é por lá que eles precisam começar a busca por uma desculpa qualquer para começar a ação (é um motor na velocidade da luz, mas ninguém se importa!).

Capitã Marvel então é sobre Vers descobrindo que é a Capitã Carol Danvers, piloto de testes de uma operação secreta. Tudo isso durante os divertidos, coloridos, e cheios de personalidade, anos 90. Portanto, peguem o caderninho e anotem uma quantidade quase infinita de referências sobre a época.

O filme é dirigido por Anna Boden e Ryan Flack (no roteiro ainda contam com a presença de Geneva Robertson-Dworet), e desde os momentos iniciais fica claro o quanto seu trabalho é direto e objetivo. Lutas claras e composições que não perdem tempo com nada a não ser a ação descrita no roteiro. Talvez uma aproximação um pouco direta até, sem respiro ou apreciação estética, o que pode tornar um filme um pouco pragmático, mas que não atrapalha o ritmo de nada. Capitã Marvel é um filme onde as coisas acontecem.

Isso talvez soe frio, mas diante da natureza da personagem e seu “background”, é mais fácil entender que isso acompanha o feitio de agir militarizado da personagem. Não existe respiro para grandes questões existências, já que a personagem, em meio a uma missão, muito provavelmente nunca iria perder tempo olhando para o infinito tentando entender quem é. Quando ela descobre isso, e que isso lhe dá mais poderes, ótimo, hora de usá-los.

Danvers não é uma personagem feminina clássica que está para no filme assistir algum homem mais fortão que ela cumprir as missões, é ela que sai na frente. Não por feminismo, mas sim por característica dela. Por sua personalidade. Danvers não está nos anos 90 para mostrar para os fãs da Marvel como Nick Fury (Samuel L. Jackson) perdeu o olho, está lá porque ela é um brucutu do cinema da época.

Um daqueles que não respeita as carteiradas, rouba a jaqueta de couro (e a moto… entendeu como se faz T-800??!!) e bate na velhinha. E se no final das contas ela tiver que dar porrada no seu chefe e ameaçar o chefe do seu chefe, tudo bem, ela vai também. Contato que mantenha o sorriso no canto da boca e o uniforme e o cabelo, impecáveis. Chuck Norris, Silvester Stallone e Kurt Russel ficariam orgulhosos.

Brie Larson dá conta disso tudo. Não permite que a personagem seja caricata e aceita a ideia dessa canalhice padrão do arquétipo brucutu. Torcer por ela é tão fácil quanto torcer pelo Capitão América de Chris Evans, com ambos representando essa ideia forte de justiça e poder, sem precisar ser um mau caráter simpático como o Tony Stark.

A impressão que fica é que Boden e Flack não levam Capitã Marvel a sério, assim como o cinema de ação dos anos 90 não se levava. Uma opção que é um convite para o espectador apenas curtir o filme sem muita culpa ou preocupação. Se você não entende porque o Skrulls mudam de abordagem e passam a pensar, tudo bem. Se você não entendeu alguma motivação de um personagem, ótimo. Desconfiou quem era o vilão desde o começou, ok. O importante é se divertir, curtir a trilha sonora incrível e esperar para ver mais Capitã Marvel em Vingadores Ultimato.

E fazer tudo isso enquanto mergulham nessa metáfora sobre o quanto as mulheres precisam cair e levantar para conseguirem ter o direito de ser quem querem ser, é um esforço bem vindo e obrigatório. É lógico que a cena em questão, que representa essa resiliência é brega até não poder mais, mas a mensagem é tão importante que permite que isso seja relevado.

Capitã Marvel não é então um filme feminista, é apenas um filme. Com uma protagonista feminina e que é tratada do jeito que deveria. Ele passar no “Teste de Bechdel” com louvor não implica em feminismo, mas sim em uma obrigação que todo filme com personagens femininas deveriam ter.

Um filme sobre uma mulher forte, despretensioso, divertido e que apresenta, com um bom humor simpático, alguns dos personagens mais poderosos do “Universo da Marvel no Cinema”, a própria Capitã e, é claro, o gato Goose (sim… Top Gun também está presente… até com aviões nos canyons!). E se alguém ainda assim procurar um obra de arte impecável mesmo em meio a todo esses despojo, é porque está realmente no filme errado.


“Captain Marvel” (EUA, 2019), escrito por Ann Boden, Ryan Fleck e Geneva Robertson-Dworet, dirigido por Ann Boden e Ryan Fleck, com Brie Larson, Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law, Annette Benning e Lashana Lynch.


Trailer do Filme: Capitã Marvel

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