Se por um lado a Marvel parecia ter um trabalho simples, já que Homem de Ferro e Thor já tinham dado certo (tanto em termos artísticos como monetários), por outro, Capitão América – O Primeiro Vingador tinhas todas as ferramentas para ser uma faca de dois gumes. Por sorte, Joe Johnston estava lá para que isso não acontecesse.
A Johnston, que trabalhou com George Lucas e Spielberg na parte de efeitos especiais da trilogia original de Star Wars e na primeira aventura de Indiana Jones (tendo isso lhe rendido a participação na série de TV do Jovem Indiana Jones e o terceiro capítulo de Parque dos Dinossauros), ficou a tarefa mais que complicada: levar para as telas um herói que tem toda sua origem baseado em um ufanismo que deixa muita gente desconfortável.
Por definição, o Capitão América é esse cara que se veste com a bandeira dos Estados Unidos e sai por ai sendo patriota, e isso, nos dias de hoje, pode não ser a coisa mais fácil de se fazer engolir. É a leveza da mão de Johnston que consegue que tudo não derrape, assim como fez no simpático Jumanji e no heróico-retrô Rocketeer (que deve ter contado muito na hora da Marvel escolhê-lo, mais uma vez, como vem fazendo em seus filmes, baseando isso na personalidade do diretor e não em alguma expectativa).
E ainda que o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely acerte no tom ao irem de encontro ao “nascimento” original do personagem, facilitando então que tudo fique mais “simples”, já que recorrem a umas das poucas épocas da história da humanidade onde era fácil ver quem era vilão e quem eram os mocinhos (Segunda Guerra Mundial), o maior acerto mesmo é, justamente, não se apressar em se jogar de cabeça em algum tipo de filme de guerra heroico. Na verdade fazendo tudo pelo contrário, parecendo muito mais interessados (juntos de Johnston) em contar a história desse Steve Rogers (Chris Evans).
Nesse sentido, é fácil perceber o quanto o diretor está mais preocupado em mostrar esse cara franzino (por meio de efeitos visuais tremendamente bem realizados) que, no meio da Segunda Guerra Mundial, faz de tudo para se alistar em vão, já que não tem o menor porte atlético. É o Steve Rogers em uma ruela do Brooklyn, se defendendo de um valentão com um tampa de lata de lixo que Johnston está mais preocupado, e é esse tremendo cuidado em criar esse personagem sincero, correto, esforçado, frágil e tomado por um enorme coração que permite que, momentos depois, ao sair de uma espécie de “sarcófago” onde tem seu corpo injetado com o chamado “soro de supersoldado”, e moldado à perfeição, o espectador já acredite que aquele magricelo poderia fazer o que quisesse. Os músculos acabam sendo só um detalhe.
Johnston então tem a parcimônia de construir um personagem, não um herói, com a responsabilidade narrativa de fazer todos acreditarem depois disso tudo, em um cara vestindo azul, com listras vermelhas e brancas, e “armado” com um escudo, praticamente, ganhar uma guerra. Mais importante que isso, a escolha de criar uma guerra à parte para ele vencer, exime mais ainda o personagem de amarras com a realidade, deixando ainda que (assim como seu Rockteer) o tom a ser seguido seja o de uma fantasia deliciosamente “realista”.
A guerra está lá, os soldados e até a primeira função do herói como o símbolo de uma campanha de arrecadamento de dinheiro para o exército (em um show teatral cheio de dança, coristas e que permite ainda que o uniforme original seja visitado e o visual definitivo tenha uma razão de existir, e não se torne apenas uma roupa colorida no meio da guerra), mas o verdadeiro vilão é esse nazista enlouquecido, o Caveira Vermelha (Hugo Weaving) em busca de uma fonte de energia milenar (que na verdade é um dos “tesouros de Odin”, fazendo ai um link com o filme de Thor). Desfigurado pela mesma fórmula que deu força ao Capitão América e comandando uma espécie de grupo militar tecnologicamente evoluído, a Hydra, o vilão tem planos muito maiores que o do próprio Reich, o que dá ao Capitão América uma importância maior ainda que, simplesmente enfrentar Hitler (já que isso ele já fazia todas as noites no palco).
Se para os fãs do personagem isso é uma escolha mais que acertada, já que possibilita uma enormidade de referências (como a primeira aparição do cientista Emil Zola, o próprio uniforme do capitão, a capa do primeiro gibi, a Hydra, o Tocha Humana original e até o Comando Selvagem, que nos quadrinhos é liderado por Nick Fury, entre mais um monte de outros detalhes), toda essa dinâmica ainda deixa que Capitão América – O Primeiro Vingador seja essa aventura retrô com ação na medida e toda vontade do mundo de divertir sua platéia.
Por outro lado, a dupla de roteirista esbarra em certas necessidades melodramáticas, como um momento de “ciuminho” forçado entre o herói e a soldado Peggy Carter (Hayley Atwell), do mesmo jeito que não consegue posicionar a morte de um dos personagens centrais de modo que não deixe esquisita a reação do Capitão América, já que a única coisa que ele faz é descobrir que não consegue, nem ao menos ficar bêbado, depois da transformação. Ali o roteiro perde então um momento interessante de aprofundar mais ainda o personagem, infelizemente, ao invés disso, acaba preferindo discutir o valor de sua existência dentro “daquele mundo”, impedindo-o de , talvez com medo de deixá-lo um pouco trágico além do necessário, fazer com que esse acontecimento o mova em direção a algum tipo de vingança (o que, muito embora possa ser uma reinterpretação do subtítulo do filme, acabaria não condizendo com o clima do resto da história).
Por sorte, mesmo esses escorregões acabam não atrapalhando o trabalho de Johnston, que parece se divertir à beça com todos detalhes de uma direção de arte afiada, que mergulha de cabeça nesse tom “científico-retrô”. O diretor vem então de um monte de referências a Steven Spielberg e seu Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (tanto visuais quanto em relação a trama), a até a plasticidade de suas composições (com seus ângulos baixos). Isso sem contar o tom escolhido, que prefere o cartunesco ao real. O que faz mais ainda que toda trama ganhe credibilidade.
Mas talvez tudo pudesse ir por água abaixo caso a escolha de Chris Evans não se justificasse, o que felizmente não acontece. O ator, que já passeou pelos quadrinhos da própria Marvel em Quarteto Fantástico (e ainda em personagens fora dela nas adaptações de Os Perdedores e Scott Pingrin VS. O Mundo) agora parece tremendamente à vontade dentro Capitão. Tanto em sua fragilidade inicial, quanto na transformação que ele consegue imprimir ao herói no decorrer de sua “evolução”. É seu trabalho que talvez acabe sendo um dos grandes trunfos da produção, já que Evans consegue manter a mesma força em ambos os momentos, e faz todos acreditarem piamente nesse herói corajoso e simpático. Sai a canastrice de momentos recentes e volta à ativa (já que o ator já tinha conseguido igual qualidade ao tirar sarro de si mesmo em Não é Mais um Besteirol Americano) a segurança de ser quem o personagem exige.
No final das contas, Capitão América – O Primeiro Vingador até serve como uma última alinhavada antes do esperando Os Vingadores (que aqui ganha um teaser depois dos créditos finais), mas acerta muito mais como essa explosão visual, dinâmica, cheia de aventura e divertida, que casa com a tentativa acertada de Johnston de criar uma lenda, um personagem sóbrio e muito mais profundo que toda patriotada que o cerca. Uma tentativa de dar à origem desse personagem esse tom maior do que o de simplesmente um herói de guerra, mas sim de um mito, um símbolo que acaba desenhado na tampa da lata de lixo de uma criança que corre pelo mesmo Brooklyn (e talvez até com a mesma tampa) que tenha feito dele, posteriormente, esse herói que agora toma de assalto os cinemas.
Captain America – The Firt Avenger (EUA, 2011), escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, dirigido por Joe Johnston, com Chris Evans, Hayley Atwell, Sebastian Stan, Tommy Lee Jones, Hugo Weaving, Stanley Tucci e Dominic Cooper
8 Comentários. Deixe novo
Ah, e já pensou qd eles fizerem o filme novo dos vingadores, com o Capitão América, o Homem de Ferro, o Visão (um cara que atravessa paredes e lê a mente) o Falcão (ou Gavião Arqueiro, nos quadrinhos), a Princesa Escarlate (Vanda, filha do Magneto), o Mercúrio (Pietro, outro filho do vilão mutante), Namor (O Príncipe Submarino)… Aí sim vai ser o melhor filme da marvel!!!
Foi sem dúvida um dos melhores filmes da marvel. Um fato que foi citado foi a “pedra de odin” de Thor, vcs repararam que Howard Stark (pai de Tony Stark) está bem no finalzinho a procura dessa pedra?
Adivinhem no peito de quem um pedaço dessa pedra foi parar depois de muito tempo…
é sim… por meio de efeitos digitais…
o filme é mto bom;mas eu queria saber se aquele cara magrinho é o mesmo o outro que é mais forte!!!
o filme é demais um dos melhores filmes de super-heróis dos últimos anos
Boa critica! Amei esse filme, to ate curiosa paro o proximo filme”os vingadores” q estreia em 2012,falta muito tempo…
Nesse filem conseguiram fazer o Capitão America ficar bem menos tosco! Nunca gostei de personagens que usam as cores dos EUA, mas pelo menos no filme ele tinha um motivo!
Adorei quando ele decidiu que o uniforme oficial ia ser aquele mesmo…
Com certeza vale a pena assistir!
Parabéns pela crítica…
bjos
Opa, boa crítica.
Também fiz uma crítica do filme. Pode conferir aqui:
http://cinelogin.wordpress.com/2011/08/02/cinema-critica-capitao-america/