Será que era realmente necessário uma refilmagem do clássico do terror Carrie, a Estranha? E quem conseguir tirar essa pergunta da cabeça enquanto vê essa nova versão do primeiro livro de Stephen King ganhar vida nas telas, talvez encontre algo mais que um arremedo desinteressante de uma obra que entrou para a história da cultura pop.
E sim, Carrie entrou para a história tanto pelo sucesso do livro (lançado em 1974) quanto por sua versão dirigida por Brian de Palma em 1976. Uma versão que em nenhum momento de sua existência (e olha que lá se vão quase quatro décadas) perdeu o frescor ou se tornou datada, e não só por se tratar de um assunto que mais do que nunca está em voga (o tal do bullying), mas por juntar isso a um momento inspirador de um diretor, de um elenco e de uma história.
Sobra então para a dupla de roteiristas Roberto Aguirre-Sacasa (que vem de alguns anos escrevendo quadrinhos para a Marvel) e Lawrence D. Choen (curiosamente, responsável pelo texto do filme original) contar a mesma história, da mesma menina esquisita (Carrie, agora nas mãos de Chloe Crace Morets, a “Hitgirl”) que é humilhada pelas suas amigas da escola enquanto menstrua pela primeira vez. Uma puberdade que, mesmo atrasada, ainda desperta nela o poder da telecinese (que resumidamente quer dizer ¿mover objetos com a força de seu pensamento¿).
Essa “nova Carrie” então não apresenta nada de novo. E ainda que conte com uma atuação interessante de Julianne Moore, no papel da mãe carola que culpa a filha por seus pecados e ainda vê nela uma criatura do demônio (uma bruxa), o resto nem empolga nem muito menos acrescenta nada à história original, preferindo apenas transportar o cenário para os dias de hoje por meio de um vídeo colocado no Youtube. No resto do tempo, só mais do mesmo.
Bem verdade não “do mesmo”, mas sim meio piorado, sem muita qualidade na direção, no elenco coadjuvante e assim por diante. Talvez em um momento lá no terceiro ato, Carrie possa até ser interessante em termos visuais, já que quarenta anos depois os efeitos digitais permitem que o massacre no baile seja ainda mais impressionante. Mas só em termos visuais, principalmente para quem se contentar com gente voando, um incêndio e algumas explosões, por que por trás disso falta aquele toque final que fez da história algo tão clássico.
Em uma trama que se destaca justamente por caminhar nos tons de cinza (e isso não é um referência à série de livro pseudo eróticos), onde a protagonista sofrida se torna quase uma vilã, onde a mãe vilanesca estava certa desde o começo (eles iriam humilhá-la) e onde a única personagem que se aproxima de uma redenção é uma das causadoras da humilhação inicial, falta então mais material para que ninguém fique sendo julgado pela linha narrativa. Uma impressão que reflete nesse terceiro momento (no tal massacre), onde então acabam morrendo muito mais desconhecidos inocentes do que caras conhecidas e culpadas, que na verdade são apenas um punhado de protagonistas.
Quase quatro décadas atrás, tanto o livro quanto o filme, fizeram os espectadores (e leitores) acabarem essa história com um aperto no estômago, tanto pela personagem título quanto pela ferocidade de sua conclusão. Hoje a mesma história só soa como um conto panfletário contra bullying e abusos. Muito pouco diante do material que tinha e mãos.
E por fim, se não queria comparações com obras estabelecidas e ainda modernas, o caminho mais rápido seria se aventurar em algo inédito, e não tentar fazer melhor que algo que já beirava essa perfeição. E se não era para fazer melhor, bom, então não havia necessidade alguma de ter existido.
“Carrie” (EUA, 2013), escrito por Lawrence D. Cohen, Roberto Aguirre Sacasa e Stpephen King (livro), dirigido por Kimberly Peirce, com Chloe Grace Moretz, Julianne Moore, Gabriella Wilde, Portia Doubleday, Alex Russel, Ansel Elgort e Judy Greer