Chico Ventana Também Queria Ter Um Submarino | Faz jus à peculiaridade do nome


Títulos como Chico Ventana Também Queria Ter um Submarino são sensacionais: contam toda uma história antes mesmo de descobrirmos a sinopse do filme e ainda são peculiares o bastante para prenderem a atenção em um instante. É um prazer, portanto, que o longa-metragem faça jus à curiosidade causada por seu nome.

Uma cabana misteriosa nas Filipinas, um cruzeiro de luxo navegando pelas águas da Patagônia e o apartamento de uma jovem mulher na América Latina: esses três espaços tão distantes, com mistérios por si só, mostram-se de alguma forma conectados neste longa dirigido e escrito pelo uruguaio Alex Piperno. Tudo isso é retratado de forma levemente curiosa, bastante amedrontada, e com bastante casualidade pelos personagens — não há tentativas, por parte deles ou do cineasta, de explicar as coisas ou de tratá-las com a grandiosidade que poderiam receber, e que talvez merecessem. E isso é um grande acerto.

Chico Ventana se desenrola de forma quase documental, sem alarde e sem exageros; os personagens interagem pouco entre si e jamais percebem que estão dentro de uma história fantástica. A estética simples adotada por Piperno confronta os acontecimentos do filme, criando um contraste interessantíssimo e lúdico.

Tal simplicidade, porém, não impede Piperno de caprichar na montagem, na fotografia e na direção: os planos são cuidadosamente construídos, seja na hora de retratar a grandiosidade e a solidão nas Filipinas, seja na hora de estabelecer Chico Ventana (Daniel Quiroga) quase como um fantasma percorrendo as escadas do navio, graças ao jogo de luz e sombra adotado pelo diretor.

E, se Chico Ventana Também Queria Ter um Submarino evita dar respostas às situações mágicas que retrata, isso é também algo presente nos próprios personagens: o grupo de homens nas Filipinas, por exemplo, teme investigar muito a fundo a cabana misteriosa com que se deparam por temerem as possíveis conexões divinas (ou diabólicas) do ocorrido.

Um belo exercício do que o “simples” poder de boas locações, montagem e fotografia certeiras e um título tão peculiar quanto sua narrativa podem significar.


Chico Ventana También Quisiera Tener un Submarino” (Uru/Arg/Bra/Hol/Fil, 2020), escrito e dirigido por Alex Piperno, com Daniel Quiroga, Inés Bortagaray e Noli Tobol.


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